Gravuras de Debret inspiram esculturas de artista português
Na relação entre portugueses e escravos e índios dominados no Brasil, Vasco Araújo enxergou um novo mundo --tão fértil quanto violento.
Artista português, Araújo revisita em mostra agora na Pinacoteca do Estado imagens da vida do Brasil colônia feitas por Jean-Baptiste Debret, gravuras em que índios e escravos aparecem catalogados como tipos exóticos ou em cenas de humilhação diante dos colonizadores.
"Ele estava retratando o cotidiano, mas eu vejo nessas imagens o abuso dos europeus", diz Araújo, que participou da Bienal de São Paulo há três anos. "Esse é um dos primeiros testemunhos imagéticos da relação entre europeus, negros e índios. São cruéis ao mesmo tempo em que conseguem ser 'soft'."
Divulgação | ||
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Escultura de Vasco Araújo inspirada em imagem de Debret que está agora na Pinacoteca |
Esse registro documental de Debret, o francês que integrou a missão para retratar o país no século 19, vira, na visão ácida de Araújo, uma série de bibelôs perversos. Imagens das gravuras, como escravos no tronco, ganham corpo na forma de bonequinhos em poses grotescas.
PLAYMOBIL DEVASSO
Nessa espécie de Playmobil devasso, uma senhora branca é retratada com um negro debaixo da saia, homenzinhos negros aparecem com feridas abertas nas costas e um senhor branco sodomiza um negro amordaçado.
Frases dos sermões do padre Antônio Vieira --como "maldade é comerem-se os homens uns aos outros"-- contornam as esculturas.
Todas as figuras estão dispostas dentro ou ao redor de ovos enormes, abertos ou fechados sobre pequenas mesas no espaço expositivo --uma alusão aos ovos de Fabergé, peças decorativas criadas na Rússia, cravejadas de pedras preciosas, que eram então a coqueluche das classes dominantes na Europa.
"Esse era o símbolo máximo de luxo e riqueza nas cortes", diz Araújo. "Mas é também um símbolo de fertilidade, fecundação e procriação."
Nesse ponto, Araújo estabelece uma tensão entre a ideia de domínio político e financeiro e o fato de os portugueses terem sido um dos poucos povos na história colonial a se misturar com escravos e nativos na tentativa de dominar uma terra. "É como se, dessa crueldade, eles criassem uma coisa nova."
VASCO ARAÚJO
QUANDO de ter. a dom., das 10h às 18h; qui., 10h às 22h; até 14/7
ONDE Pinacoteca (pça. da Luz, 2, tel. 0/xx/11/3324-1000)
QUANTO R$ 6
Livraria da Folha
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