Crítica: Poemas de Willys de Castro documentam época de inovações
A obra de Willys de Castro (1926-1988) é fundamentalmente a de um artista plástico. Também escreveu poemas -poucos poemas, que agora podem (e devem) ser apreciados como testemunhos documentais de um período de alta experimentação.
A edição dos "32 Poemas (1953/1957)" alude a um livro que acabou não deixando a sua forma de original: é um datiloscrito com discretas intervenções do autor.
Mas essa ur-edition --edição original, que traz as marcas deixadas pelo autor-- constitui elemento de importância para a reflexão sobre algumas características do seu neoconcrestismo. No seu caso, a composição plástica ganha preeminência em numerosos poemas (leia o número um na arte abaixo).
Editoria de Arte/Folhapress |
Poemas como esse transmitem menos a preocupação da palavra na página do livro do que a execução cromática no suporte de uma tela branca.
Mas o artista e poeta também explorou artifícios da disposição gráfica da palavra, como acontece no poema "vai / vem", que descreve a queda de um objeto leve em seu voo ziguezagueante.
Esse poema remete a "l(a", de e.e.cummings, apesar de ausente a tensão entre a folha que cai e seu possível observador solitário.
Existe alguma frustração no fato de que quase nenhum poema de Willys de Castro tenha alcançado a sua realização definitiva -como a escolha de fontes, de itálicos e negritos, uma vez que esses e tantos outros suportes gráficos se revelam críticos.
Em "Poemas & Poems", organizado no final dos anos 1950, encontram-se algumas páginas translúcidas, cruciais para a exploração semântica das palavras appear (aparecer) e disappear (desaparecer).
Poemas assim (leia o número dois na arte) revelam com melhor resultado as dimensões enganosas (uma espécie de trompe-l´oeil sonoro) das palavras -Willys de Castro também demonstrou interesse pela música concreta.
Nesses poemas, escapa-se do que é meramente gratuito. Mas "32 Poemas (1953/1957)" e "Poemas & Poems", embora experimentais e inovadores, também surgem como objetos arqueológicos recentes, apenas vagamente indicativos do que se pode alcançar, graficamente, com as mídias eletrônicas, sob a atraente interseção da literatura com a imagem.
FELIPE FORTUNA é poeta e ensaísta, autor de A Mesma Coisa (Topbooks).
32 POEMAS (1953/1957)
AUTOR Willys de Castro
EDITORA BEI
QUANTO R$ 40 (118 págs.)
AVALIAÇÃO bom
POEMAS & POEMS
AUTOR Willys de Castro
EDITORA BEI
QUANTO R$ 40 (88 págs.)
AVALIAÇÃO bom
LANÇAMENTOS sábado (13), das 11h às 14h, no IAC (r. Alvaro Alvim, 90)
Livraria da Folha
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