Guilherme Arantes, idolatrado pela nova MPB, volta a gravar
Prestes a completar seis décadas de vida (em julho), Guilherme Arantes teve de superar a concorrência até dele mesmo para, depois de seis anos sem um disco de inéditas, gravar "Condição Humana (Sobre o Tempo)", com lançamento previsto para o dia 7 de junho, no Rio.
"A gente compete até mesmo no sebo. Sou disputado, o pessoal tem meus discos de vinil. É engraçado: tantas décadas depois, o que as pessoas podem ainda esperar de você?", comenta o pianista, compositor e cantor.
O que o público poderia esperar talvez nem o próprio Arantes soubesse, mas ele tinha bem claro a sonoridade que buscaria para a concepção do disco que traz dez faixas autorais, a maioria versando sobre a relação do homem com o passar do tempo.
Nesta linha, estão canções como "Condição Humana", "Onde Estava Você" e "O Que Se Leva (Temor ao Tempo)", em que ele fala de sua tentativa de voltar a ser jovem e de retomar um frescor musical.
"Percebi que precisava retomar aquela sonoridade da virada dos anos 1970 para 1980, meter o braço no piano", diz o autor de clássicos como "Êxtase", "Aprendendo a Jogar" e "Planeta Água".
O tipo de sonoridade a que Arantes se refere diz respeito à sua ligação com o instrumento que o consagrou, um "piano de mão de pedreiro", como ele mesmo define, e que levou a comparações com nomes da geração atual.
"Por mais que eu tenha discípulos --me comparam com o Jeneci e com o Silva--, o som deles não lembra muito o meu. O Guilherme Arantes é meio tosco, um piano mais espalhafatoso, eu não sou tão contido e pós-moderno. O Silva não tem arroubos expressivos, que são uma marca da minha geração."
Marcelo Justo/Folhapress | ||
O compositor, pianista e cantor Guilherme Arantes, 59, no hotel Marabá, em São Paulo |
CORO AFIRMATIVO
Se, por um lado, Arantes não vê muitas semelhanças com seus discípulos do piano, por outro, ele se diz extremamente identificado com os ideais da nova geração.
Não à toa, duas faixas de seu novo álbum contaram com um coro de nomes como sua filha Marietta Vital e Kassin, Tulipa Ruiz, Marcelo Jeneci, Laura Lavieri, Tiê, Thiago Pethit, Mariana Aydar, Duani, Curumin e Adriano Cintra, entre outros.
"A nova geração tem uma marca que eu admiro muito que é o idealismo, o amor à música", diz o compositor.
"Eles enxergam o 'pop star system' com olhos críticos. Têm vontade de estourar, mas ao mesmo tempo o 'mainstream' representa um mico, uma série de contrapartidas que eles não estão a fim de entrar. Eu entrei, nem sei como eu sobrevivi", diz Arantes.
FIM DO OSTRACISMO
A tábua de salvação de Guilherme Arantes nos tempos em que reinou a "música de computador", feita com o abuso de sintetizadores e teclados, foi justamente o piano. Nos anos 1980 e 1990, ele tentou escapar do estilo cantor romântico.
"Na década de 1980, um executivo da Sony dizia: 'Afasta Guilherme do piano, tiene que ser cantante romântico'. Eu não aceitava, estava ludibriando a indústria. Era o 'Projeto Julio Iglesias', que pegou Fabio Jr., Maurício Mattar e até o Paulo Ricardo", relembra o pianista.
Eduardo Knapp/Folhapress | ||
Artistas da nova geração que gravaram o coro em "Onde Estava Você" e "O Que Se Leva" |
O que ajudou o músico a sobreviver no mercado --em 2012 ele foi homenageado com o disco "A Voz da Mulher na Obra de Guilherme Arantes", pelo selo Joia Moderna-- foi também o fato de ele ter criado em 2005 sua própria gravadora, a Coaxo do Sapo.
"Foi um sonho e facilitou. Hoje, a música tem uma função utilitária. A época atual pede a festa, a balada, é um dos defeitos da modernidade, perde-se a reflexão."
CONDIÇÃO HUMANA (SOBRE O TEMPO)
ARTISTA Guilherme Arantes
GRAVADORA Coaxo do Sapo
QUANTO R$ 24, em média
LANÇAMENTO 7/6, às 22h, no Vivo Rio (av. Infante Dom Henrique, 85; tel. 0/xx/21/4003-1212; de R$ 40 a R$ 140; 16 anos)
Livraria da Folha
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