90 anos de Lygia Fagundes Telles e eventos em torno de Hilda Hilst celebram dupla
A literatura ainda só usava calças compridas --e as mulheres só usavam saias-- quando as duas apareceram no então provinciano cenário das letras nacionais.
Livro, filmes e teatro revitalizam Hilda Hilst
Na Casa do Sol, Hilda Hilst deixou material para quatro obras
"Tenho pudor da loucura", diz Lygia Fagundes Telles, 90
Cada uma à sua maneira --uma, moça comportada e narradora de corte clássico; outra, desbocada e prosadora de viés experimental--, elas abriram caminho para as mulheres brasileiras na carreira literária, sem terem feito concessões ou se dobrado a uma ficção "feminina" de duvidosa qualidade.
Hilda Hilst e Lygia Fagundes Telles
Lygia Fagundes Telles chegou ontem aos 90 anos ainda na ativa e com sua obra "arrumadinha" em uma coleção da Companhia das Letras, editora para a qual acaba de transferir a obra de seu marido, o crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes, morto em 1977.
"Recuperar a imagem do que foi, mas que ficou para sempre, é o esforço bem logrado da prosa ardente de Lygia Fagundes Telles", anotou o crítico Alfredo Bosi num famoso texto de 1979.
Já Hilda Hilst, morta em 2004, aos 73 anos, completaria 83 anos amanhã e atinge agora uma nova onda da projeção que sempre sonhou, mas não viveu para gozar.
Editada com rigor pela Globo, que lança no fim do mês um volume de entrevistas, a poeta é um hit dos estudos literários, tem dois filmes baseados em sua obra sendo produzidos e ganha traduções no exterior. Além disso, a Casa do Sol, onde morou, terá agora um teatro de arena.
Díspares e complementares, a "dama" e a "vagabunda" das nossas letras têm vida e obra revisitadas pela "Ilustrada". (RAQUEL COZER E PAULO WERNECK)
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HILDA HILST
Origem
Nasceu em Jaú (SP), em 21/4/1930, filha da portuguesa Bedecilda Vaz Cardoso e do fazendeiro e poeta Apolônio A. P. Hilst, esquizofrênico paranoico
Formação
Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em 1952
Estreia em livro
"Presságio", em 1950
Principais obras
"Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão" (1974) e "A Obscena Senhora D" (1982)
Reconhecimento
Prêmios Pen (poesia), Anchieta (teatro), Cassiano Ricardo (poesia), Jabuti (poesia e prosa) e outros
Beleza
Despertou paixões e escandalizou a sociedade com namoros breves
Momento decisivo
O ano de 1965, quando constrói a Casa do Sol em Campinhas (SP)
Paixões
Várias e breves, incluindo Marlon Brando (que preferiu um amante francês) e Júlio de Mesquita Neto
Companhias inseparáveis
O escritor espanhol José Luis Mora Fuentes e dezenas de cachorros
Sobre sua literatura
"Quero ser lida em profundidade, não como distração. É a última coisa que se devia pedir a um escritor: novelinhas para ler no bonde"
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LYGIA FAGUNDES TELLES
Origem
Nasceu em São Paulo, em 19/4/1923, filha de Durval de Azevedo Fagundes, promotor público que perdeu tudo no jogo, e da pianista Maria do Rosário de A. Fagundes
Formação
Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em 1945
Estreia em livro
"Porão e Sobrado", em 1938
Principais obras
"Antes do Baile Verde" (1970), "As Meninas" (1973) e "Seminário dos Ratos" (1977)
Reconhecimento
Prêmio Camões (2005), dois prêmios Jabuti e a imortalidade na Academia Brasileira de Letras e na Academia Paulista de Letras
Beleza
Ficou em segundo lugar no concurso Rainha dos Estudantes de 1936
Momento decisivo
O ano de 1954, quando publica "Ciranda de Pedra" e nasce Goffredo, seu filho
Paixão
O crítico Paulo Emílio Salles Gomes (1916-1977), com quem se casou em 1960
Companhia inseparável
O filho Goffredo Telles Neto (1954-2006), que dedicou o filme "Narrarte" à mãe
Sobre sua literatura
"O conto tem que desabrochar como uma fruta, como uma manga verde que você põe dentro da gaveta e espera amadurecer
Livraria da Folha
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