Festival Abril Pro Rock iguala público da edição anterior graças à noite do metal
O diretor artístico do Abril Pro Rock, Paulo André, declarou antes mesmo de o evento começar que o festival chegou ao patamar em que está --são 21 edições com passagem de nomes com Chico Science e Nação Zumbi, Los Hermanos e Pitty-- por saber "o tamanho do passo que pode dar".
Com essa consciência de ser um festival de médio porte, o Abril Pro Rock, realizado nas noites de sexta (19) e sábado (20), em Recife, igualou a média de público da edição anterior, tendo recebido quase 12 mil pessoas.
Para 2014, a expectativa é a mesma, mas haverá um concorrente de peso. Como a edição do Lollapalooza do ano que vem cairá em abril, Paulo André disse à Folha que tentará levar ao Abril Pro Rock pelo menos duas atrações que tocarão no Lolla, aproveitando a passagem dos gringos pelo país.
Agência Pavio |
D.H. Peligro, baterista da banda Dead Kennedys durante show do festival Abril pro Rock em Olinda |
Se no ano passado o principal chamariz de jovens -público alvo do festival-foi o show da turnê comemorativa dos 15 anos do Los Hermanos (banda praticamente revelada no APR), em 2013 essa função coube à noite do metal.
Invadido pelo estereótipo do metaleiro clássico (o mar de camisetas pretas, cabelões chacoalhados pelos "headbangers", coturnos e chifrinhos feitos com a mão e erguidos para o alto), o Chevrolet Hall recebeu 8 mil pessoas: o dobro em relação à noite anterior.
A diferença significativa de público entre o primeiro e o segundo dia do evento é simples de ser explicada:
O público metaleiro é de alta fidelidade, os fãs compram camisetas das bandas preferidas e viajam até de longe se necessário. Segundo a organização do festival, 30% do público na segunda noite do APR 2013 era de outros Estados.
Além da forte chuva que alagou pontos de Recife e Olinda na sexta, a primeira noite do festival foi prejudicada também por uma escalação sem grandes novidades.
SEXTA: SOM FOFO PARA MOLECADA
A organização do Abril Pro Rock se mostrou coerente ao separar em dois dias distintos estilos completamente diferentes. O que não quer dizer que tenha acertado propriamente dito na grade, cometendo deslizes principalmente na sexta.
Shows de Marcelo Jeneci, Móveis Coloniais de Acaju e Volver empolgaram a plateia de faixa etária na casa dos 18 anos, com um som "soft" e raso. O público era aquele mesmo. Não à toa, quem melhor o definiu foi Siba, ao cumprimentar o público com um "boa noite, criançada".
Além da grata surpresa da noite, o capixaba Silva -que mostrou canções do seu primeiro álbum, como "Claridão", "2012", "Falando Sério" e uma versão inédita para "Taí", de Joubert de Carvalho--, o pernambucano Siba fez o show mais maduro e menos infantiloide da noite. No repertório, basicamente temas do álbum mais recente, "Avante", um dos melhores de 2012.
Quem empatou com Siba em termos de maturidade sonora foram os americanos do Television. O desconforto entre plateia e banda foi tão grande que até uma garrafa chegou a ser arremessada na direção dos músicos. O guitarrista Jimmy Rip fez pose de mau, mostrou o dedo do meio para a agressora e a banda foi ovacionada pela molecada presente.
SÁBADO: SOM GUTURAL PARA EMBALAR AS RODAS
Na segunda noite do Abril Pro Rock 2013, seguindo o esquema praticado no evento desde 1997 -com o segundo dia tendo um "desenho mais pesado", como definiu Paulo André--, não teve espaço para fofuras.
Fosse metal, hardcore ou punk rock, a atitude e o som pesado dominou a noite, com todos os shows contando com muito "mosh" e rodas de bate-cabeça gigantes. A atitude já aparecia logo no nome das bandas anunciadas por um locutor: Vocífera, Devotos [do Ódio], Sodom (Alemanha), Dead Kennedys etc.
Na noite de "amenidades" sonoras, houve até espaço para os americanos do Fang, cujo vocalista, Sam "Sammytown" McBride, ficou preso por seis anos após estrangular e matar sua namorada.
Houve espaço também para o interessante rock político da banda DFC, com críticas pesadas a sua cidade natal, Brasília.
Mas o grande destaque da noite foi a banda gaúcha Krisiun, que faz carreira com bastante projeção no exterior. Com um metal virtuose, com guitarra, baixo e bateria cravados em altíssima velocidade, o grupo foi o mais aplaudido da noite. Depois deles, os alemães do Sodom ainda foram recebidos com calor pela plateia, que já havia abandonado o Chevrolet Hall em grande parte durante a última apresentação do APR, feita por Andre Matos.
O repórter LUCAS NOBILE viajou a convite da produção do festival
Livraria da Folha
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