Crítica: Peça leva escritor japonês Haruki Murakami ao palco com altos e baixos
Cinco contos do escritor japonês Haruki Murakami ganharam adaptação cênica por Monique Gardenberg e Michele Matalon, que também assinam a direção da peça "O Despertar do Elefante".
O inexplicável ou o absurdo do nosso cotidiano, desvendado pelo cultuado autor, não é sempre traduzido para o palco. Destacam-se o magnífico "Sono" e o hilário "Segundo Ataque".
"O Pássaro de Cordas" abre com um desempregado (Caco Ciocler) que deriva com destreza pelo assédio de três mulheres: a misteriosa sensual (Marjorie Estiano), a mulher mandona (Maria Luisa Mendonça) e a jovem espirituosa (Fernanda de Freitas).
Andre Gardenberg/Andre Gardenberg | ||
O ator Caco Ciocler em cena de "O Desaparecimento do Elefante", em cartaz em SP |
A excelente cenografia (Daniela Thomas e Camila Schmidt), que usa projeções de fotografias e vídeos em telas fixas e móveis para compor os espaços, precisava apurar o ritmo através da iluminação (Maneco Quinderé).
O "Comunicado do Canguru" se prolonga na resposta ao remetente de uma reclamação, gravada em vídeo por um controlador de qualidade (Kiko Macarenhas). Declarando-se apaixonado, seu rosto projetado em duas telas só amplia a impressão de um personagem caricato que não incita empatia.
Ao explorar a relação entre fantasia e rotina, "Sono" é o momento alto da noite. A mulher (ótima: Maria Luisa Mendonça) de um dentista (André Frateschi) foge do vazio de sua existência e se desdobra em Anna Karenina.
Flutuamos entre o apartamento burguês e o palco da trágica heroína com projeções de filmes e ópera.
Segue "Segundo Ataque", farsa repleta de citações da cultura de massa. Como ato terapêutico, um casal saído de uma HQ (hilários: Caco Ciocler e Marjorie Estiano) assalta o "WcDonald".
A notícia sobre "O Desparecimento do Elefante" é introduzida como ótima paródia de telejornais (André Frateschi e Clarissa Kiste como âncoras). Faltava levar o relações-públicas, que espanta a jornalista (Fernanda de Freitas) ao revelar detalhes do sumiço do enorme mamífero (Rafael Primot), mais a sério.
O conjunto dos contos resulta num belo entretenimento que, pontualmente, poderia ter apostado mais na densidade dos personagens.
O DESAPARECIMENTO DO ELEFANTE
QUANDO sex., às 21h; sáb., às 20h; dom. e feriado, às 18h; até 5/5
ONDE Sesc Pinheiros (r. Paes Leme, 195; tel. 3095-9400)
QUANTO até R$ 32 (esgotados)
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO bom
Livraria da Folha
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