Grupo Galpão leva Luigi Pirandello para praça de BH
Finda a viagem realista guiada por textos do russo Anton Tchékhov (1860-1904), geradora de seus dois últimos espetáculos, o Grupo Galpão retorna à rua e à linguagem popular barroca do diretor Gabriel Villela para a primeira montagem inédita juntos em duas décadas, desde o afastamento após "A Rua da Amargura" (1994).
Grupo e diretor mineiros preparam "Os Gigantes da Montanha", de Luigi Pirandello (1867-1936). O espetáculo deve estrear até o início de junho em Belo Horizonte. Em São Paulo, deve ser apresentado no segundo semestre.
Qualquer impressão de que a peça leva o grupo à zona de conforto, contudo, se dilui diante da complexidade do texto derradeiro do Nobel italiano. "As fábulas do Pirandello não são fáceis de serem digeridas num espaço hostil como o do teatro de rua", diz Villela.
Guto Muniz/Divulgação | ||
Cena da montagem "Os Gigantes da Montanha", baseada no texto de Luigi Pirandello, que deve estrear no próximo mês |
Escrita para exorcizar uma experiência malsucedida do autor com sua companhia Teatro d'Arte, mas interrompida por causa da morte de Pirandello, a peça traça em tons surreais o encontro de uma companhia destruída pela falta de público e pelas dívidas com um grupo de dissidentes sociais que aboliu a distinção entre real e ficção.
"Como um dos homens mais importantes do século 20, Pirandello acompanha a saturação da arte e se questiona sobre qual a possibilidade de o teatro existir no mundo hoje", diz Eduardo Moreira, que interpreta Cotrane, líder dos que largaram o mundo material em busca da quimera da representação.
Referências à cultura popular italiana conferem ao espetáculo a comunicação direta com o público que a prosa poética de Pirandello inibe, mas o Galpão almeja.
MÁSCARAS
Villela se serve da tradição das máscaras faciais do dramaturgo italiano Carlo Goldoni (1707-1793), construindo expressões assombrosas nos rostos de atores como Inês Peixoto, estrela da companhia destinada à tragédia.
"Fizemos exercícios radicais para chegarmos a caras e bocas que não vemos no teatro hoje, porque uma escola russa realista e o cinema americano impuseram outro tipo de comportamento. Ativamos músculos que começam no pescoço e vão por toda face", diz o diretor.
Entre as tradições populares italianas que aquecem a encenação do grupo há ainda solos musicais inspirados no romantismo do Festival de Sanremo, como "La Vita Mia", "Io Che Amo Solo Te" e outros temas do cancioneiro daquele país.
"Os Gigantes da Montanha" será encenado na praça do Papa, ao pé da Serra do Curral, em Belo Horizonte.
Um local simbólico por ter recebido 15 mil espectadores no fim de semana de reestreia do espetáculo "Romeu e Julieta", também do Grupo Galpão, em 2012.
E também simbólico pela visão panorâmica da cidade, tal qual a montanha aludida no título do espetáculo.
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