"O Grande Gatsby" oscila entre grandes momentos e clima de comercial de champanhe
A nova adaptação "O Grande Gatsby", em vários momentos, parece um grande comercial de champanhe. Ou de joias. Ou de roupas. Ainda assim, com patrocinadores variando entre Moët & Chandon e Tiffany, a Warner estava preocupada com o investimento de US$ 125 milhões (R$ 266 milhões) em uma nova versão de um clássico escrito por F. Scott Fitzgerald (1896-1940) há quase um século.
Não ajudava o fato de ter no comando do longa o australiano Baz Luhrmann, que nunca teve um filme acima da marca dos US$ 100 milhões (R$ 213 milhões) nas bilheterias americanas e, apesar de ter dirigido os cultuados "Romeu + Julieta" (1996) e "Moulin Rouge" (2001), vem de um épico romântico fracassado ("Austrália", de 2008).
Crítica: "O Grande Gatsby" perde o lado obscuro do personagem
Mas abrindo uma clareira em uma floresta de super-heróis e continuações, "O Grande Gatsby" estreou mês passado, nos Estados Unidos, com US$ 50 milhões (R$ 106 milhões) no fim de semana --e alcançou US$ 130 milhões (R$ 277 milhões) em menos de um mês. O alívio foi sentido por toda Hollywood.
"Fiquei muito feliz de ter feito um longa que se conectou com as pessoas. Os números foram muito, muito melhores do que todos nós imaginávamos", revela um aliviado Luhrmann, dois dias depois de saber que seu filme era um sucesso e um dia antes de ser recebido com frieza na abertura do Festival de Cannes.
"Não vou mentir e dizer que não foi uma surpresa. Os números fazem uma grande diferença. Adorei quando li que um analista escreveu que não conseguiríamos bater 'Homem de Ferro'. Como se isso fosse nosso objetivo. Eu adaptei um livro do século passado, não há um super-herói ali no meio."
"O Grande Gatsby" tentou se adaptar à nova geração usando as armas de "Homem de Ferro 3": ele foi rodado inteiramente em 3D. "Achei muito fácil me adaptar à tecnologia", diz o cineasta. "Usei o 3D como Alfred Hitchcock fez nos anos 1950, intensificando o drama dos personagens ou criando poesia visual. Além disso, Fitzgerald era um modernista, adorava experiências. Foi uma homenagem."
Apesar do tributo, Luhrmann e seu roteirista Craig Pearce decidiram injetar algumas mudanças na transposição do livro. Nick Carraway, personagem de Tobey Maguire que vê de perto a história de amor entre um milionário misterioso (Leonardo DiCaprio) e uma mulher casada (Carey Mulligan), vira um alter ego explícito de Fitzgerald.
O jazz deu lugar ao rap --e, em algumas horas, a Lana Del Rey e Florence Welch-- com a produção do músico Jay-Z, que carimbou o encontro da pompa elitista de Luhrmann e da sociedade nova-iorquina da década de 1920 com seu "Watch The Throne", gravado em 2011 com Kanye West.
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Leonardo DiCaprio e Carey Mulligan em cena do filme "O Grande Gatsby", do diretor Baz Luhrmann |
"Jay-Z foi o primeiro a ver o filme. Ele foi sincero e disse que a trilha sonora não estava funcionando. Em seguida, Jay-Z assumiu a produção e virou uma espécie de curador musical do longa", fala o australiano. "A música é um personagem de 'O Grande Gatsby'. Fitzgerald foi criticado ao citar música afro-americana em seus livros e eu também fui."
Baz Luhrmann só perde um pouco da confiança quando a reportagem da Folha pergunta sobre essas comparações com o autor, que morreu sem dinheiro e sem o status que adquiriu ao longo dos anos. "Eu não temo ser esquecido", reluta ele. "Ou talvez, sim", retoma em seguida.
"Olha, Fitzgerald foi muito popular por um breve período de sua vida, mas foi esquecido. Eu estou fazendo cinema há 20 anos, assim como Tarantino", recobra a confiança. "Se você olhar para alguns cineastas que admiro, como Francis Ford Coppola, ele fez grandes filmes em um curto período de tempo. Podem não gostar de mim, mas minhas obras são cultuadas até hoje."
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