Nova obra compila textos em primeira pessoa de Ruy Castro
O "eu" era proibido no computador de Ruy Castro. Biógrafo de Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda, ele não admitia a intromissão da primeira pessoa na hora de retratar a vida de alguém: "Na biografia, o autor não existe. É apenas um vidro entre o leitor e o personagem".
Com a produção de textos mais leves, híbridos de crônicas e colunas de opinião, publicados na página 2 da Folha, Castro não teve escolha: "A crônica pede a primeira pessoa".
Um Ruy Castro com pronome pessoal assumido é a matéria do livro "Morrer de Prazer: Crônicas da Vida por um Fio", que chega agora às livrarias.
Daniel Marenco/Folhapress | ||
O jornalista e escritor Ruy Castro em sua casa, no Rio |
A editora Isa Pessoa, da carioca Foz, percebeu que nesses textos mais íntimos havia um denominador comum: o apelo a viver a vida de maneira intensa, sem medo de perder nem de ganhar.
São pequenos ensaios confessionais e memorialísticos. "Mas que em nada se assemelham a uma autobiografia, gênero no qual não confio", esclarece Ruy.
O livro, em cuja capa o autor aparece mordendo um cacto, apresenta um desfile de paixões: literatura, música, mulheres (encontros com Claudia Cardinale, Natalie Wood, Kim Novak, Odete Lara). E, no texto que dá título à coletânea, uma "lista de melhores filmes de todos os tempos", que só vai até 1968, com "2001: Uma Odisseia no Espaço", de Stanley Kubrick.
"Há quem não aceite o fato de eu não gostar do cinema feito depois dos anos 1970. Mas ninguém se incomoda quando alguém diz que, para ele, música só até Beethoven, ou que, em
literatura, é melhor parar no Proust porque a vida é curta", conta.
Aos 65 anos, brinca: "Só recentemente tomei conhecimento da minha idade".
O relato das doenças, e de como ele as enfrentou, impressiona: primeiro um infarto, depois um câncer na garganta, na base da língua (cujo tratamento deu-se ao mesmo tempo em que escrevia a biografia "Carmen", em 2005), que o obrigou a largar o cigarro --mas não a coleção de cinzeiros.
No Carnaval do ano passado, sofreu um ataque de encefalite viral; ao cair no chão e convulsionar, fraturou o ombro direito, a sequela mais grave, tratada até hoje com sessões de fisioterapia. "Bola para frente", diz ele, que toca em segredo projetos para três livros.
MORRER DE PRAZER: CRÔNICAS DA VIDA POR UM FIO
AUTOR Ruy Castro
EDITORA Foz
QUANTO R$ 39,90 (184 págs.)
Livraria da Folha
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