Longa espanhol segue tendência de adaptar clássicos infantis para o público adulto
Após passar sete anos lutando para produzir "Branca de Neve", o basco Pablo Berger (nascido em Bilbao) gosta de descrever o produto final como "sonho realizado".
E o sonho de Berger se tornou concreto na última entrega do Goya, principal premiação do cinema espanhol.
"Branca de Neve" levou dez estatuetas, incluindo a de melhor filme, e se tornou a terceira produção mais laureada na história do prêmio espanhol ("Mar Adentro", de 2004, levou 14 e "¡Ay, Carmela!", de 1990, 13).
Divulgação | ||
Macarena García, como Carmem (ou Branca de Neve), rodeada por cinco dos seis anões do filme de Pablo Berger |
Embora se destaque da onda por sua sofisticação e densidade, o filme de Berger se insere numa tendência recente do cinema comercial americano: a adaptação de clássicos infantis para um público em geral mais adulto.
Um dos precursores foi "Alice no País das Maravilhas", de Tim Burton, que rendeu US$ 1 bilhão em 2010.
Histórias infantis com toques sombrios e temas maduros inundaram estúdios de Hollywood. "João e Maria: Caçadores de Bruxas" (2013), por exemplo, troca a dupla
de garotos alimentada por uma bruxa canibalesca por adultos traumatizados e exterminadores de monstros.
Branca de Neve, tema do longa de Berger, inspirou outros dois filmes recentes: "Branca de Neve e o Caçador" (2012), que traz uma heroína à la Joana D'Arc, e "Espelho, Espelho Meu" (2012), com uma Rainha Má que busca no casamento a solução para seus problemas financeiros.
INDIGNADOS
Na última semana, Berger veio ao Brasil para promover seu filme. Primeira parada: Brasília, onde o longa integrava o Festival Internacional de Cinema -o diretor passaria ainda por Rio e São Paulo.
Nos arredores do Museu da República, na Esplanada dos Ministérios, local da primeira exibição, Berger se deparou com uma multidão, não exatamente para prestigiar o seu longa. Ele diz ter ouvido que aquele era um momento histórico. Naquela quinta (20/6), cerca de 30 mil pessoas participaram de uma manifestação na capital.
Emocionado, Berger -que compara os protestos no Brasil ao movimento dos "indignados" surgido na recente crise espanhola- voltou à sala de cinema para apresentar seu filme para poucos. Dedicou a sessão "aos jovens sonhadores" que estavam "lutando por um país melhor".
Tocada pelo discurso, Anna Karina de Carvalho, uma das diretoras do festival, decidiu abrir as portas do cinema para quem estivesse na rua.
"O momento atual é para sonhar. E o cinema é um lugar para sonhar. Meu filme é uma prova disso. E as pessoas vão ao cinema para sonhar", diz o diretor.
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