'Amor à Vida' recicla cenas e tramas da TV e do cinema
No ar há quase dois meses, a novela "Amor à Vida" (Globo) se envolveu recentemente em um impasse em torno da personagem Nicole, vivida por Marina Ruy Barbosa.
Na história, a jovem, vítima de um câncer e submetida a sessões de quimioterapia, teria de raspar seus cabelos.
A sequência, como lembrou o novelista Aguinaldo Silva em seu perfil no Twitter, não é original.
"Protestem! Não deixem que raspem os cabelos ruivos de Marina Ruy Barbosa na novela! Nem novidade é. Fizeram com Carol Dieckmann", escreveu ele, referindo-se à novela "Laços de Família (2000), da mesma emissora.
Essa é apenas uma das diversas referências a outras produções encontradas em "Amor à Vida". As inspirações da trama passam por séries americanas, outros folhetins da própria Globo e até filmes.
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Carrasco, inclusive, raspou as madeixas de outra personagem doente, a assessora Tatiana (Rachel Ripani), em "Caras & Bocas" (2009).
"Ele tem esse histórico de puxar em suas novelas outras produções", diz Nilson Xavier, autor do "Almanaque da Telenovela Brasileira". "Mas, dessa vez, exagerou."
Xavier lembra o caso da novela "O Cravo e a Rosa" (2000), em que o autor fez referências explícitas aos folhetins "O Machão" (1974), da TV Tupi, e "A Indomável" (1965), da TV Excelsior.
Em "Amor à Vida", o especialista também associa a história de Aline (Vanessa Giácomo), que está armando uma vingança contra César (Antonio Fagundes), à da personagem de Gloria Pires em "Suave Veneno" (1999). Ambas seduziram homens ricos e mais velhos para lhes dar um golpe.
Para Laurindo Leal Filho, professor de comunicação da USP, o uso de referências na dramaturgia é comum.
Ele compara a TV a uma indústria e aponta que a grande demanda por novelas, exibidas simultânea e ininterruptamente, faz com que os autores se valham de memórias sobre outras tramas.
"A necessidade de preencher esses espaços acaba inibindo a originalidade."
Apesar de tantas inspirações, Nilson Xavier não tira o mérito de Walcyr Carrasco na criação de "Amor à Vida". "A trama central é original", diz, sobre o envolvimento de Paloma (Paolla Oliveira) com Bruno (Malvino Salvador), que assumiu a filha abandonada da protagonista.
Procurados, tanto o autor quanto Mauro Mendonça Filho, diretor de núcleo da novela, não responderam.
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