Crítica: Orquestra do Festival de Inverno de Campos do Jordão faz apresentação excelente
Existem basicamente duas maneiras para que um jovem músico ingresse no universo sinfônico: numa orquestra em que recebem formação intensa durante algumas semanas, ou numa orquestra que estica o aprendizado por alguns anos.
O Festival de Inverno de Campos do Jordão mostrou, no auditório Cláudio Santoro, dois desses casos exemplares durante o último fim de semana. No sábado à noite, a Orquestra do Festival, que reuniu 110 dos 144 bolsistas. No domingo foi a vez da OER (Orquestra Experimental de Repertório), um dos corpos estáveis do Theatro Municipal de São Paulo.
E, nos dois casos, as peças de resistência traziam ambições técnicas. Uma virtuosa "Sagração da Primavera", de Igor Stravinsky (1882-1971), com os bolsistas eles fizeram uma segunda récita no domingo, na Sala São Paulo e uma "Sinfonia nº 9", de Dmitri Chostakovich (1906-1975), com a OER.
No caso dos bolsistas do festival, o excelente resultado era praticamente previsto. A Fundação Osesp, pelo segundo ano responsável pela organização do evento, indicou como diretor pedagógico o violonista e professor Fábio Zanon, que deu ênfase, na carga horária, justamente ao aprendizado orquestral.
Com o terceiro programa ensaiado, desta vez sob a regência de Carolyn Kuan, maestrina americana de origem taiwanesa, os músicos fizeram um Stravinsky homogêneo, com realce nas cores, superando com facilidade as dificuldades de uma partitura que praticamente transforma todos os naipes em solistas.
O programa também trouxe a americana Kennifer Koh como solista do "Concerto para Violino" de Tchaikovsky (1840-1893). Ela é uma música em rápida ascensão, colecionando prêmios e esbanjando talento. Mesmo com uma escrita orquestral mais simples e menos ousada que a de Stravinsky, a orquestra saiu-se muitíssimo bem.
No caso da Experimental, foi mais uma vez o resultado do longo trabalho de formiguinha do maestro Jamil Maluf, que criou a orquestra em 1990 e mantém os jovens músicos por um período de no máximo quatro anos.
As chaves para o Chostakovich exemplar que fizeram --uma sinfonia alegre, quase histriônica, uma exceção entre as 15 que o compositor russo escreveu-- estiveram com as cordas e com os metais. Mas com momentos de excelência entre as madeiras, caso da flauta piccolo de Danilo Crispim, que segurou a linha melódica em parte do primeiro movimento.
Também no domingo, mas com apresentação gratuita e ao ar livre, o festival trouxe um lindo espetáculo do Palavra Cantada, dupla formada há quase 20 anos por Paulo Tatit e Sandra Peres, acompanhada por 23 músicos da Osesp, com a regência de Wagner Polistchuk.
Foi o mesmo espetáculo apresentado em meados de maio na Sala São Paulo. Tatit e Peres são notáveis pela valorização da inteligência das crianças. Há a superação da estereotipia que os medíocres do mercado fonográfico consideram como sucesso no repertório infantil.
ORQUESTRA DOS ALUNOS E OER
AVALIAÇÃO: ótimo
O jornalista JOÃO BATISTA NATALI foi hospedado pela Fundação Osesp
Livraria da Folha
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