Músico Raul de Souza volta ao país com seu jazz no festival Mimo
Sonny Rollins chegando ao hospital com sacolas de comida, depois de ouvi-lo reclamar da dieta enquanto se recuperava de um acidente; as horas e horas no estúdio com George Duke (1946-2013); as gravações com Cannonball Adderley (1928-1975).
Qualquer meia hora de conversa com o trombonista brasileiro Raul de Souza, 78, parece uma viagem com lendas do jazz americano, com quem conviveu desde 1969, quando se radicou na Califórnia.
Festival Mimo amplia gêneros musicais e já abrange três cidades
De volta ao Brasil, depois de morar em Los Angeles, Chicago e Paris, o músico é uma das atrações da Mostra Internacional de Música (Mimo), que acontece entre 23/8 e 9/9 em Paraty (RJ), Ouro Preto (MG) e Olinda (PE) --onde ele toca no dia 7/9.
Eduardo Anizelli/Folhapress | ||
O músico Raul de Souza em seu apartamento no Morumbi |
O retorno tem cara de descanso ("aposentadoria não"). "Eu saí de Bangu, de uma família paupérrima e acabei tocando com os caras que eu sonhava ser. Acho que está de bom tamanho", diz sorrindo à Folha.
Sua trajetória começou nos anos 1950, quando, moleque, ficou "hipnotizado" com uma música de Louis Armstrong que ouviu pelo rádio.
O trombone velho que ganhou de um amigo lhe abriu um novo mundo. Autodidata, Raul era rejeitado pelos grupos regionais e nas gafieiras por ser estilo intuitivo.
"Eu não conseguia tocar 'Parabéns a Você' sem improvisar. Os caras odiavam, falavam 'não chama o Raul, não, que ele atravessa tudo'."
Sem muito espaço e dinheiro, foi ser músico do Exército em Curitiba (PR).
RECLAMAÇÕES
Em 1963, um amigo avisou que precisavam de um trombonista para gravar um disco. Era "Você Ainda Não Ouviu Nada!", de Sergio Mendes.
"Depois Sergio foi para os EUA com esse disco e fez carreira, como se fosse obra só dele. Espero uns tostões do que ele ganhou", alfineta, sem tirar o sorriso da cara.
Mas o disco também lhe rendeu prestígio. Varou noites tocando com Altamiro Carrilho (1924-2012) e João Donato no mítico Beco das Garrafas, gravou com Baden Powell e fez arranjos para Roberto Carlos.
Nos EUA, gravou "Colors" (1974) pela Milestones Records, e o aclamado "Sweet Lucy" (1977) pela Capitol.
A técnica, afiada no chorinho, no samba e no que mais aparecesse, garantiu um diferencial entre os jazzistas que ele chama de "meus mestres". "Mas eu achava pouco, e inventei o 'souzabone'", conta, sobre o trombone adaptado com quatro pistões (um normal tem três), que só ele toca.
Desde os anos 1980, gravou com grandes nomes da MPB, como Milton Nascimento e Maria Bethânia.
Em Olinda, o repertório deve passear por todas as fases de sua carreira.
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