Associação de galerias de arte decide publicar polêmico livro sem selo do grupo
Embora tenha sido uma encomenda da Associação Brasileira de Arte Contemporânea, a Abact, o livro "ABC - Arte Brasileira Contemporânea" será publicado sem o selo da entidade que representa as principais galerias de arte do país.
Numa decisão apertada na manhã desta sexta (6), no Rio, 25 galeristas decidiram por 13 votos a 12, que o livro sobre o trabalho de 86 artistas representados pelas casas nacionais deve ser publicado sem o endosso oficial da Abact.
Isso porque a seleção de nomes, a cargo dos curadores Adriano Pedrosa e Luisa Duarte, concentrou escolhas no elenco de apenas três galerias das 43 que compõem a associação.
Mais de metade dos artistas --47 de 86-- são representados, nesta ordem, pelas galerias Fortes Vilaça, Luisa Strina e Vermelho, todas paulistanas.
Mesmo que as próprias galerias tivessem acordado dar total autonomia sobre a seleção aos autores do livro, essa concentração entre líderes do mercado causou um racha na cena artística do país, levando algumas casas, como a carioca Progetti, a deixar a associação.
"O problema desse livro é que ele segrega em vez de unir as galerias", diz Juliana Freire, sócia da galeria Emma Thomas, que atuou no chamado "grupo de controle de crise" da Abact. "É uma questão política, mas a associação se dispôs a resolver o problema."
No caso, o livro orçado em R$ 675 mil, e que já captou esse valor por meio de leis de incentivo, será publicado em dezembro pela Cosac Naify sem o nome da Abact, para evitar que a seleção seja vista como uma lista chancelada por todas as galerias da associação.
Márcio Botner, sócio da galeria A Gentil Carioca, discordou da decisão de tirar o logotipo da Abact. "Quando você chama autores para pensar num recorte, eles devem ter total autonomia", diz Botner.
"Foi uma luta da associação fazer com que esse livro exista. O problema é que as pessoas estão vendo esse livro como um glossário definitivo da arte brasileira, o que ele não é. Esse pode ser um primeiro volume de muitos."
Segundo Botner, a publicação do livro sem o nome Abact fará da obra o "trabalho de um autor anônimo". "O conteúdo está ali e todo mundo sabe que foi a associação que fez."
Outro ponto polêmico foi a inclusão de artistas estrangeiros na lista, já que o projeto inicial previa que fossem abordados só brasileiros ou radicados no país. Mesmo assim, há nomes como o cubano Carlos Garaicoa, que vive e trabalha em Havana, e o argentino Jorge Macchi, que vive em Buenos Aires, na seleção final.
Eliana Finkelstein, sócia da galeria Vermelho e presidente da Abact, diz que por causa da crise a associação deve agora deixar de produzir conteúdo para ser uma "plataforma para gerar ideias".
"Não é um problema não ter o selo da Abact. O importante é que o livro foi feito", diz Finkelstein. "Se não ouvíssemos a voz dos galeristas mais jovens, não estaríamos mostrando a que veio essa associação."
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