Mauricio de Sousa revela ter sofrido boicote de distribuidora na Europa
A mesa sobre quadrinhos brasileiros na Feira do Livro de Frankfurt, na manhã deste domingo, transcorreu sem grandes surpresas até perto do fim, quando Mauricio de Sousa contou, pela primeira vez, que desistiu do mercado europeu nos anos 80 após sofrer boicote de uma grande distribuidora.
O quadrinista participava de conversa com os artistas Lellis, Fernando Gonsales, Lourenço Mutarelli e os gêmeos Fabio Moon e Gabriel Bá. Ziraldo, que estava convidado, permaneceu no hotel, depois de ter sofrido um princípio de infarto na cidade
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Quando alguém do público questionou os artistas sobre as dificuldades para a exportação de suas obras, Fabio Moon começou a falar que os "quadrinistas só têm o limite que quiserem", ao que Mauricio atalhou: "Desde que não os impeçam."
Contou que, nos anos 80, publicou, por "quatro ou cinco anos", a "Turma da Mônica" na Europa, com tiragens de 60 mil exemplares, vendidos especialmente na Alemanha.
Gijs Versteeg/Divulgação | ||
Mauricio de Sousa revelou em mesa sobre quadrinhos na feira ter sofrido boicote de distribuidora na Europa |
"Mas começamos a esbarrar em esquemas existentes [de empresas que publicavam quadrinhos naqueles países], que temiam que a gente atrapalhasse", afirmou.
Disse ter descoberto, com um jornaleiro português que morava na Suíça e conhecia seu trabalho, que as bancas tinham "recebido ordens da principal distribuidora para não vender e devolver todo o material à editora".
"O jornaleiro me mostrou as revistas no fundo da banca. Um grupo, não vou citar qual, temia que dominássemos o mercado", disse. Os quadrinhos eram publicados na Europa por selos ligados à alemã Ehapa Verlag e, segundo Mauricio, ele preferiu interromper as publicações.
Só agora, depois de iniciativas isoladas, Mauricio de Sousa está voltando aos principais países do mercado europeu, segundo informou em entrevista à Folha após o debate.
Em Frankfurt, participou de cinco eventos em escolas para o lançamento do "Pelezinho" (inspirado em jogador que as crianças alemãs não conhecem tão bem como Neymar, Luis Gustavo ou Ronaldinho), e da graphic novel "Astronauta Magnetar", assinada por Danilo Beyruth, ambos com tiragens pequenas na Alemanha, de 2.000 exemplares. Os livros estão saindo também na Espanha, na Itália e na França.
A obra do autor é publicada em 32 idiomas e distribuída em 50 países. O maior mercado é a Indonésia, onde, por muito tempo, acreditou-se que a Mônica era um personagem local. "Quando a revista saiu lá, o país estava num regime ditatorial que proibia menção ao português por causa da briga com o Timor Leste", contou.
Agora, a meta do quadrinista, que vendeu 1,2 milhão de cópias de livros no Brasil em 2012 (o número de revistas em bancas ele não informa), é se firmar no mercado de animações para crescer no exterior, especialmente nos países de língua inglesa, onde é inédito.
"Estou me reservando para os Estados Unidos. É a última fronteira", brincou.
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