Amazon aposta em seu alcance para ter sucesso vendendo obras de arte
Quando JudyDeFord, professora de arte aposentada no ensino médio, de Seattle, recebeu um e-mail da Catherine Pearson Gallery, recentemente, ela reconheceu um nome na lista de artistas. Era o de uma antiga aluna, Allyce Wood.
"Pensei que era ótimo, e decidi que queria comprar uma das peças dela", diz DeFord.
Mas em lugar de pegar o carro e ir à galeria, que fica a dez minutos de sua casa, ela acessou a Amazon Art, uma categoria de belas artes e produtos colecionáveis que a Amazon acrescentou ao seu site em 6 de agosto deste ano.
Clicou sobre as imagens dos trabalhos de Wood, selecionou um desenho a caneta de uma raiz de planta exposta, intitulado "Excavated", e com alguns cliques de seu mouse o adquiriu por US$ 160. "Comprei pela Amazon porque é fácil e rápido", disse.
Divulgação | ||
Logo da Amazon Art, sessão da Amazon especializada na venda de obras de arte |
A Amazon está apostando que milhões de compradores como DeFord comprarão pinturas e gravuras alegremente, da mesma maneira como compram sapatos, livros ou produtos para a cozinha, na internet.
Para atrai-los, a companhia estendeu uma ampla rede pelo mundo da arte, abordando galerias nos Estados Unidos e alguns outros países com uma proposta simples: permitam que exponhamos suas obras em nosso site e, por comissão sobre a venda, os levaremos aos nossos 100 milhões de clientes na América do Norte e aos 200 milhões de clientes que temos em outros países.
Pelo fato de a Amazon não revelar dados de vendas, não se sabe ao certo se aposta está ou não dando resultado.
Kate Nielsen, artista de Brooklyn, recebeu um contato da Amazon em julho. Alguém na companhia havia visto o seu site, presumido incorretamente que ela era marchande, e a convidou para participar. "É uma companhia tão grande que me desconcertou", disse Nielsen. "Fiquei imaginando como tinham me descoberto, uma pessoazinha desconhecida aqui em Brooklyn".
Até o momento, a Amazon assinou com mais de 180 galerias e oferece mais de 43 mil trabalhos bidimensionais, variando de "Untitled (Dolar Bill)", de Ryan Humphrey, um artista de Queens, com preço de US$ 10, ao retrato que Monet pintou de seu filho Jean, em 1868 (US$ 1,4 milhão); no topo dessa grande pilha fica "Willie Gillis: Package from Home", quadro de Norman Rockwell que está à venda por US$ 4,85 milhões.
Nielsen tem diversas gravuras digitais à venda no site por US$ 45.
O Monet e o Rockwell servem para atrair a mídia noticiosa e foram causa de comentários sarcásticos, muitos dos quais no site da Amazon. O economista e crítico Tyler Cowen (colaborador regular do "New York Times"), avaliando os produtos de alto preço oferecidos pela divisão de arte da Amazon em seu blog, Marginal Revolution, escreveu que "naveguei pela categoria de preço acima de US$ 10 mil, e virtualmente todos as peças parecem: A. esteticamente horrendas e B. drasticamente superestimadas em termos de preço. É como se os galeristas estivessem tentando descarregar estoque indesejado e difícil de vender por preços abusivos".
A companhia não criou a Amazon Art com o objetivo de vender obras-primas do impressionismo. Como seus representantes não demoraram a apontar, 95% das peças oferecidas custam menos de US$ 10 mil. Cerca de um terço delas custam entre US$ 250 e US$ 1.000.
Alguns marchands postaram apenas algumas imagens online. A maioria postou algumas centenas. A RoGallery, de Long Island City, Queens, tem mais de 6.000 imagens na Amazon Art. A Ugallery, de San Francisco, e a Zatista, de Filadélfia, oferecem cada qual mais de 4.000 imagens.
Os vendedores pagam comissões da ordem de 20% para as peças de até US$ 100, a escala decresce até atingir os 5% para as peças de mais de US$ 5 mil. Alguns repassam o custo aos artistas, e outros não o fazem. Os consumidores preocupados com fraudes precisam confiar na reputação da galeria e na política tradicional da Amazon de permitir restituição de qualquer produto comprado via site em até 30 dias, sem necessidade de justificar o retorno.
A Amazon não oferece definições de qualidade e não impõe critérios de gosto. "Não estamos exercendo qualquer curadoria", diz Peter Faricy, vice-presidente da Amazon e diretor-geral do Amazon Marketplace, em entrevista recente. "Essa tarefa cabe às galerias".
Faricy classifica os vendedores no Amazon Art como "as mais conceituadas e respeitadas galerias do mundo". Com poucas exceções, porém, os nomes não são conhecidos. Nem a Pace nem a Gagosian estão na lista; os nomes que constam dela incluem a Masterworks Fine Art, em Oakland, Califórnia; a Edgewater Gallery, em Middlebury, Vermont; e a Borghi Fine Art, de Englewood, Nova Jersey.
Charles Edwards, que opera uma galeria em Shoredicth, Londres, a Pure Evil (também o nome artístico de Edwards), procurou a Amazon depois de ler sobre a Amazon Art em uma revista especializada. "Somos basicamente uma galeria de arte de rua, de arte urbana", ele diz. "Eu liguei para eles e mostrei o que fazíamos, e a minha ideia de venda funcionou".
"Queremos ser a loja de arte com a maior seleção do mundo", diz Faricy.
A Amazon já tinha tentado se aventurar no território da arte. Em outubro de 1999, formou parceria com a Sotheby's para conduzir leilões de arte online em dois sites. A experiência fracassou.
Desde então, o cenário da web mudou drasticamente. Com um só clique, os clientes podem comprar arte online na Etsy, eBay e Costco. Companhias iniciantes de arte como a Atrtspace, Artsy e Artsicle adotaram como missão desmistificar a experiência de compra de arte e a ampliação da audiência por meio de processos simplificados de compra, preços acessíveis, ou ambos. Companhias como a Artnet e a Paddle8 levaram os leilões de arte à Internet, e a Christie's planeja realizar 40 leilões exclusivamente online este ano.
A atividade online reflete mudanças no comportamento dos consumidores. Os compradores demonstram cada vez mais disposição de selecionar arte online e pagar por ela igualmente online, sem ver a peça original.
Em um estudo recentemente lançado sobre o comércio online de arte, a Hiscox, uma seguradora britânica de arte, e a Art Tactic, uma empresa britânica de análise de mercado, constataram que 89% das galerias que eles pesquisaram vendiam arte a clientes regularmente usando apenas imagens digitais, e que 64% dos colecionadores entrevistados haviam realizado compras dessa forma, não só de gravuras e fotografias, mas de quadros.
As compras online ainda respondem por menos de 10% das vendas em cerca de metade das galerias pesquisadas, no entanto. E, como proporção do mercado total de arte dos Estados Unidos, as vendas online parecem ainda menores. A Ibis World, uma companhia de pesquisa de mercado, em seu mais recente relatório sobre o mercado, estimou que as vendas online nos Estados Unidos chegaram a US$ 287 milhões em 2012, ou menos de 2% de um mercado que movimentou US$ 17,4 bilhões.
Somados, os dois números sugerem uma categoria ainda em sua infância, com espaço para crescimento, especialmente nos escalões mais baixos do mercado. E para isso surgiu a Amazon Art. Quaisquer que sejam suas preocupações privadas sobre o assunto, os marchands estão fazendo o melhor que podem para descrever a incursão da Amazon ao ramo das belas artes como uma boa coisa para todos os envolvidos. Uma base de consumidores mais ampla, uma das linhas de raciocínio que eles mais empregam afirma, beneficiará a todos.
"Não creio que o objetivo da Amazon seja criar relacionamentos com os artistas individuais e servir como um grande armazém para sua produção", diz Pete Borowsky, fundador da Zatista. "É nesse ponto que a comparação com o mercado de livros se torna inválida. Uma obra de arte é única".
Nielsen, a artista de Brooklyn, conseguiu vender bom número de peças. Depois que o Hyperallergic, um site de conteúdo, incluiu uma imagem de uma de suas gravuras em um artigo intitulado "as dez obras de arte mais baratas da Amazon Art", ela vendeu oito gravuras em uma semana.
Uma das vendas aconteceu quando ela estava explicando a Amazon Art a amigos, em um jantar. Um dos convivas pegou o smartphone e adquiriu uma das gravuras na hora, sem revelar o que estava fazendo. "Eu estava pegando o telefone para ligar para ele e avisar que tinha recebido o pedido e encaminharia a obra", contou Nielsen em recente entrevista por telefone. "Mas acho que vou levar direto. Ele mora a três quarteirões do meu estúdio".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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