Logos-Diálogos tem estreia completa após músico ter acidente no palco
As apresentações dos dois espetáculos da série Logos-Diálogos no Sesc Vila Mariana a partir de hoje são, mais que reestreia, exercício de superação.
Isso porque seu diretor artístico e único músico em cena, o grego radicado no Brasil Dimos Goudaroulis, 43, caiu no fosso do palco do Teatro Alfa na véspera da estreia, em maio do ano passado. Salvou seu violoncelo precioso, mas quebrou o pulso.
Decretou-se aí sua exclusão das primeiras exibições do projeto que une música e dança, tendo como eixo central as "6 Suítes a Violoncello Solo Senza Basso" (1720-23), do barroco Johann Sebastian Bach.
"Imagine o que é para um violoncelista quebrar o pulso direito; eu tive que parar a minha vida de músico e me recuperar, passei minha vida em revista. Mas o espetáculo amadureceu com o distanciamento e essa visão crítica", conta Goudaroulis.
Sokratis Nikogl | ||
Ensaio da apresentação Logos-Diálogos |
Com sua ausência, representada por um violoncelo ao centro do palco, perdia-se não só um músico, mas o homem que estudou a obra de Bach desde os 13 anos, na Tessalônia, cidade grega onde nasceu. Dedicou-se em especial às suítes, peças raras no repertório erudito, por serem solos para violoncelo. Ao gravá-las em CD em 2010, achava que tinha terminado seu ciclo com elas. "No comecinho de 2011, o Luiz Felipe d'Ávila, aluno e amigo meu, lançou uma provocação: 'você não quer pensar um espetáculo de dança para essas músicas?".
Goudaroulis aceitou o desafio, mas queria um coreógrafo diferente para cada suíte, por conhece-las profundamente e perceber em cada uma "significados simbólicos" próprios. Dividiu-as em dois grupos de dinâmicas paralelas, o primeiro com as suítes 1, 2 e 3, de clima parecido respectivamente com as suítes 4, 5 e 6, da segunda trilogia.
Também tomou para si a tarefa de dar unidade poética ao todo, para o espetáculo não ser só "um pot-pourri com seis coreógrafos desfilando lindas danças que não fizessem um sentido maior".
De clima solar, a suíte 1 ganhou coreografia de Jorge Garcia para sua companhia. O recifense trouxe de seu estilo, que mescla popular e clássico, uma releitura da capoeira de Angola para encenar a gênese do universo.
Nela, Goudaroulis e seu violoncelo representam a imagem do criador. "Ele [Goudaroulis] não só toca no espetáculo, mas tem uma entrega, uma energia muito importante que conduz os movimentos; com sua energia, fica mais potente", diz Garcia.
A primeira trilogia segue com solo do argentino Luiz Arrieta na suíte 2, sombria, e termina com a Quasar Cia. de Dança que, na coreografia de Henrique Rodovalho, apresenta a extrovertida suíte 3.
Com o mesmo andamento da primeira parte, a segunda trilogia, exibida no outro fim de semana (25, 26 e 27/10), exibe dança de Tíndaro Silvano para os jovens da Cia. Vórtice, solo denso de Ismael Ivo e apoteose final por Deborah Colker e seu grupo. Todas elas, finalmente, com música ao vivo.
LOGOS DIÁLOGOS - 6 SUÍTES DE J.S. BACH PARA VIOLONCELO SOLO E DANÇA
ONDE Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141 - São Paulo; tel. 0/xx/11/5080-3000)
QUANDO sex. e sáb., 21h; dom., 18h; dias 18, 19 e 20, primeira trilogia - suítes 1, 2 e 3 (75 min.); dias 25, 26 e 27, segunda trilogia - suítes 4, 5 e 6 (80 min.);
QUANTO R$ 6,40 (comerciários) a R$ 32 (inteira)
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
Livraria da Folha
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