Crítica: Em memórias, Hawking deixa de lado a ciência e aborda sua doença com humor
A curta autobiografia do físico britânico Stephen Hawking, 71, apropriadamente batizada de "Minha Breve História", tem como principal virtude o bom humor seco e objetivo com que o pesquisador narra sua vida.
A história não é exatamente um conto de fadas. Hawking se tornou o mais famoso cientista vivo não só pelo brilhantismo mas, principalmente, por estar "preso a uma cadeira de rodas" (como rezam os clichês jornalísticos que ele mesmo trata de satirizar no livro), vítima de esclerose lateral amiotrófica, doença que leva à degeneração dos neurônios que controlam os movimentos.
Hoje, Hawking depende de sutis movimentos de suas bochechas e de seu sintetizador de voz (capaz de produzir até três palavras por minuto) para se comunicar, mas leva a coisa na brincadeira: pelo menos o aparelho consegue variar sua entonação "e não fala como um dos Daleks [vilões da série de ficção científica britânica Doctor Who]".
O senso de humor aparece ainda nos relatos sobre as inúmeras apostas que fez ao longo das décadas com colegas sobre suas ideias a respeito de buracos negros (a especialidade acadêmica de Hawking) e outros detalhes do funcionamento do Cosmos - uma das últimas apostas, aliás, ele perdeu ao defender que o bóson de Higgs, a partícula que dá massa a todas as outras, nunca seria encontrada.
FRANQUEZA
A franqueza com que Hawking aborda sua trajetória acadêmica e sua vida familiar também chama a atenção. Ele conta que foi um estudante universitário relativamente ocioso em Oxford, mais interessado em participar de competições de remo e em festas do que nos livros. E não tenta encobrir como a doença afetou seu relacionamento com a primeira mulher, Jane.
Depois que o terceiro filho do casal nasceu, conta Hawking, "ela estava preocupada que eu fosse morrer em pouco tempo e queria encontrar alguém que daria apoio a ela e às crianças e se casaria com ela quando eu partisse. Ela encontrou Jonathan Jones, músico e organista da igreja local, e cedeu a ele um quarto em nosso apartamento. Eu teria me oposto, mas também achava que iria morrer cedo e sentia que era necessário encontrar alguém que apoiasse as crianças depois disso".
No fim das contas, os dois acabaram se divorciando, e Hawking se casou com sua enfermeira, Elaine Mason.
A leitura do livro só não é muito recompensadora para quem está interessado em entender a contribuição científica de Hawking e de seus colegas para as teorias modernas sobre a origem e o destino do Universo, tratada de passagem - e não muito didaticamente - no texto.
O físico provavelmente achou que seus livros de divulgação científica, como o clássico "Uma Breve História do Tempo" (daí, também, o nome da nova obra), já cumpriam bem esse papel.
MINHA BREVE HISTÓRIA
AUTOR Stephen Hawking
EDITORA Intrínseca
QUANTO R$ 19,90 (144 págs.)
AVALIAÇÃO bom
Livraria da Folha
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