Vale-Cultura começa a ser utilizado sem governo saber
Antes mesmo do lançamento oficial do Vale-Cultura —e sem o conhecimento do governo federal—, trabalhadores no Estado do Paraná já usam os cartões magnéticos.
Semelhante a um vale-refeição, o Vale-Cultura é um cartão de R$ 50 mensais que poderá ser distribuído a funcionários por empresas —algumas receberão abatimento no Imposto de Renda—, para gastos com atividades culturais. O valor é cumulativo.
A empresa Grupo Ribeiro, dona de cinco concessionárias de veículos no Paraná e no Mato Grosso do Sul, distribuiu cartões a 62 de seus 296 funcionários em 12 de dezembro. Os trabalhadores recebem salários de até R$ 1.150.
Sérgio Ranalli/Folhapress | ||
A zeladora Rosângela Castelini da Silva, 44, com o cartão do Vale-Cultura, em Marialva (PR) |
A entrega dos "primeiros" cartões pela ministra da Cultura, Marta Suplicy, porém, está marcada para hoje, às 11h, no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo. Segundo o governo, os primeiros a receber o benefício, no fim do mês, serão funcionários do Banco do Brasil.
Antes de ser informado ontem pela Folha de que já havia trabalhadores com o cartão, o Ministério da Cultura afirmara que não existia, "até o momento, nenhuma empresa utilizando o Vale-Cultura".
"Isso é uma questão de mercado. O ministério não controla [a distribução]. A partir do momento em que uma empresa é credenciada, já pode distribuir os cartões", diz a assessoria da pasta.
A inscrição para o programa começou em setembro. Até a conclusão desta edição, 1.269 empresas de todo o país estavam cadastradas.
Os 62 cartões em uso foram feitos pela Coopercard e distribuídos a concessionárias em Maringá, Londrina e Cruzeiro do Oeste (PR), e Campo Grande e Dourados (MS).
Segundo Henrique Ribeiro, diretor de marketing do Grupo Ribeiro, em cada cartão foram depositados R$ 200, referentes aos meses de outubro, novembro, dezembro e janeiro.
MATERIAL ESCOLAR
Quando recebeu o Vale-Cultura, Rosângela Maria Castelini da Silva, 44, zeladora da concessionária na cidade paranaense de Maringá, tentou comprar um ingresso no cinema, mas o local não aceitou o cartão. Então, foi à Livraria Rainha da Paz, que vende artigos religiosos.
"Comprei um livro do Padre Marcelo Rossi ["Ágape"] e um rosário", diz.
Com cerca de R$ 110, diz ter comprado também material escolar para o filho de sete anos, como livros, pastas e cadernos.
Segundo o Ministério da Cultura, a compra desses produtos é permitida. Já o rosário, diz a pasta, não poderia ser adquirido com o cartão.
A telefonista Josilaine de Andrade, 34, comprou ingressos de cinema para ela e para a filha de 10 anos. Ela diz que usará o restante do dinheiro para comprar material escolar para a filha.
O governo exige que as empresas que administram os cartões enviem mensalmente informações sobre o uso do benefício. Segundo Silvio Domingues, diretor comercial da Coopercard, a empresa enviará hoje o primeiro relatório.
VALE O QUÊ?
O Vale-Cultura é de R$ 50 por mês, cumulativos; segundo a lei que instituiu o benefício, é permitido gastar com os seguintes itens:
Ingressos
Cinema
Circo
Dança
Teatro
Shows
Festas populares
Produtos culturais
Fotografias
Quadros
Gravuras
Jornais
Livros
Partituras
Revistas
Artesanato
Escultura
Equipamentos de artes visuais ("como uma ópera", de acordo com exemplo dado pelo governo)
Instrumentos musicais
Cursos
Artes
Audiovisual
Circo
Dança
Fotografia
Música
Teatro
Literatura
Livraria da Folha
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