Crítica: Livros exaltam as cantoras Isaurinha e Inezita Barroso
Os recém-lançados perfis das cantoras Isaurinha Garcia e Inezita Barroso derrapam num problema comum nesse tipo de livro: são repletos de loas, exaltações, como se isso fosse necessário para ressaltar a importância das personagens.
É verdade que Isaurinha (1923-1993), sobretudo, anda esquecida, injustiça com uma excelente cantora, tão identificada com São Paulo em função de seu sotaque.
Mas o problema não se resolve com a opção tomada pela produtora cultural Lulu Librandi, que enche o seu "Quando o Carteiro Chegou... Mensagem a Isaurinha Garcia" de elogios próprios e alheios à sua amiga. Há esse atenuante, aliás: ela deixa claro já no início que é um livro-homenagem.
Editora 34/Arquivo de Inezita Barroso | ||
Inezita Barroso em uma fazenda na cidade de Matão (SP), em 1940 |
Mas Librandi não resiste a homenagear a si própria ("bolado por minha cabeça ousada") e a patinar em clichês pró-Isaurinha de veracidade discutível ("era uma unanimidade").
Ainda há erros primários, como dizer que Pixinguinha liderava o grupo Época de Ouro, do qual jamais participou, e que o famoso concerto da bossa nova no Carnegie Hall foi em 1961, e não em 1962.
Mas Librandi, amiga da família, teve acesso a cartas e poemas da cantora, o que rende momentos reveladores e comoventes.
O livro ainda traz encartado o DVD com a entrevista dada por Isaurinha a Fernando Faro, em 1972, no programa "MPB Especial". Vale muito.
Talvez para evitar o sensacionalismo de que acusa a imprensa da época, a autora não vai tão fundo quanto poderia nas turbulências do casamento de Isaurinha com o organista Walter Wanderley, a quem ela continuou amando mesmo depois de ele ir para os Estados Unidos em 1966 e não voltar. Mas o principal está contado.
PATRIMÔNIO
Arley Pereira morreu em 2007 sem ver "Inezita Barroso - A História de uma Brasileira" concluído e publicado -o que foi possível com a ajuda de várias pessoas.
O livro mostra o que sempre se soube do autor: um pesquisador rigoroso, grande conhecedor da música brasileira. A discografia detalhada da artista é uma das preciosidades do volume.
Porém, encantado com outra cantora paulistana tão forte, que conciliou a vida em alta sociedade com a imersão na cultura caipira, Pereira não resiste a adjetivos como "magistral" e expressões como "uma das mais brilhantes estrelas da música brasileira". Há até um capítulo só para os prêmios e homenagens que ela recebeu.
E Pereira não consegue se desviar de algo frequente em perfis: a personagem, com os depoimentos dados ao autor, predomina como fonte das histórias, sem que haja muitos outros entrevistados a oferecer contrapontos e acréscimos.
A compensação é a riqueza de informações espalhadas pelo livro e a riqueza da própria perfilada. Há 34 anos apresentando o programa "Viola, Minha Viola" na TV Cultura, Inezita é, aos 88, um patrimônio nacional.
Além de toda a sua importância para a música do interior, ainda foi quem lançou "Ronda", de Paulo Vanzolini, em 1953.
Ao contrário do de Isaurinha, que não vai além de um esboço para tanto, o livro sobre Inezita é a base sólida de qualquer obra mais ampla que se deseje fazer sobre ela. Adjetivos dos autores à parte, não há dúvida de que são duas artistas fundamentais.
LUIZ FERNANDO VIANNA é coordenador de internet do Instituto Moreira Salles
QUANDO O CARTEIRO CHEGOU... MENSAGEM A ISAURINHA GARCIA
AUTORA Lulu Librandi
EDITORA MIS-SP
QUANTO R$ 20 (232 págs.)
AVALIAÇÃO regular
INEZITA BARROSO - A HISTÓRIA DE UMA BRASILEIRA
AUTOR Arley Pereira
EDITORA 34
QUANTO R$ 44 (208 págs.)
AVALIAÇÃO bom
Livraria da Folha
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