Crítica - Picotado em minicapítulos na TV, 'Serra Pelada' ainda é bom cinema
Inserido nessa onda de minisséries com cenas de ação em que a Globo parece investir, com a já exibida "Amores Roubados" e a anunciada "A Teia", o filme "Serra Pelada" é boa diversão adulta para o fim de noite. Mesmo exibido em doses homeopáticas.
Dividido em quatro capítulos, de terça (21) a sexta (24), o longa se transforma em curtas um tanto irritantes. Porque a trama bem costurada pelos roteiristas Heitor Dhalia (que também dirige) e Vera Egito cria um faroeste com toques de filme de gângster que é mostrado com uma pegada quente (falando aqui de ação e sexo) e urgente, numa edição eficiente que fica perdida com as interrupções de um dia para o outro.
Divulgação | ||
Tereza (Sophie Charlotte) e Coronel Carvalho (Matheus Nachtergaele) na minissérie "Serra Pelada" |
Nem dá para analisar como uma minissérie. "Serra Pelada" é puro cinema. Dhalia tem um bom currículo na tela grande e usa aqui atores que, embora conhecidos na TV, têm DNA de cinema, como Matheus Nachtergaele, Wagner Moura e Juliano Cazarré.
A história acompanha a ascensão de Juliano (o personagem tem o mesmo nome do ator) no maior garimpo do mundo, nos anos 1980. Ele deixa São Paulo para tentar a sorte em Serra Pelada. Ele tem músculos e tino comercial, enquanto seu parceiro Joaquim (Júlio Andrade) é um professor franzino que cuida da contabilidade da área que os dois exploram no garimpo.
O cenário é totalmente bangue-bangue, com bebedeiras, brigas e prostitutas, mas Nachtergaele dá um toque evidente de Don Corleone, de "O Poderoso Chefão", no papel do Coronel Carvalho, dono de quase todo o garimpo, que enxerga Juliano como uma pedra no sapato.
Para tornar a rivalidade entre eles mais acirrada, no meio está a prostituta Tereza (Sophie Charlotte), que Coronel Carvalho tirou da zona ainda adolescente. Juliano quer tirar do sujeito seu dinheiro, seu poder e sua garota.
O aproveitamento de cenas de arquivo do garimpo real é bem equilibrado, e a reconstituição cenográfica ficou caprichada. A fotografia é um dos trunfos do filme. Com tons de vermelho, amarelo e marrom, faz uma ligação com a terra e o ouro, numa identidade visual muito feliz.
Dhalia sabe bem dirigir atores. Nachtergaele e Wagner Moura (de careca falsa) são eficientes em seus tipos asquerosos, vilões numa história praticamente sem mocinhos. Mas é com Sophie e Cazarré que o diretor consegue boas interpretações. O casal mostra muito mais talento do que seus personagens em novelas permitem.
"Serra Pelada" é envolvente e, sem dúvida, é melhor ver o filme completo, sem a estrutura de episódios da TV. Eles são muito curtos, alguns têm menos de meia hora. Na quarta (22), por exemplo, foi ao ar quase à meia-noite, depois do habitual futebol na Globo. É pedir muito ao espectador.
SERRA PELADA
AVALIAÇÃO bom
Livraria da Folha
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