Atriz Nathalia Timberg vive no teatro fase final de Samuel Beckett
A parceria entre a atriz Nathalia Timberg e o Club Noir, grupo experimental sediado na rua Augusta, no centro de São Paulo, confirma: o cenário das companhias estáveis e o mundo das celebridades parecem ter feito as pazes.
Juntos, Timberg e o grupo fundado pela atriz Juliana Galdino e pelo dramaturgo e diretor Roberto Alvim estreiam neste sábado o espetáculo "Tríptico Samuel Beckett", no Centro Cultural Banco do Brasil.
Não que as partes estivessem rompidas propriamente. Mas não era comum ver marginais (no bom sentido, obviamente) e o mainstream navegando em um mesmo barco. A coisa começou a mudar de três anos para cá.
Lenise Pinheiro/Folhapress | ||
As atrizes Paula Spinelli (esq.), Nathalia Timberg (centro) e Juliana Galdino |
Em 2011, o ator Caco Ciocler quebrou essa divisão, em trabalhos com o próprio Club Noir. Em 2012, Renata Sorrah fez parceria com a Companhia Brasileira de Teatro, de Curitiba. E no ano passado foi a vez de Camila Pitanga se juntar à Mundana.
No segundo semestre, o Club Noir tem também o projeto de encenar "Terra de Ninguém", de Harold Pinter, com Antonio Fagundes no elenco.
RENOVAR-SE
A aposta é "ousada", assume Timberg à Folha, quase quatro anos após sua última investida no teatro.
Em 2010 ela atuou em "Sopro de Vida", espetáculo de essência comercial com direção de Naum Alves de Souza. Atualmente, interpreta a personagem Bernarda, na novela global "Amor à Vida".
"O importante é renovar-se o tempo todo como artista, e o trabalho deles me chamou atenção por sua trajetória e sua relevância", diz a atriz.
A bandeira branca também foi levantada por Alvim, que há um ano criticou ferozmente a velha guarda das artes cênicas, historicamente ligada ao Teatro Brasileiro de Comédia —berço de Timberg.
"Não há nada para aprender com a geração de atores que criou o teatro moderno no Brasil", disse Alvim à Folha em março do ano passado. "São atores figurativos, que desenvolveram uma técnica incrível mas que não dá conta das dramaturgias contemporâneas."
O discurso mudou. "Nathalia mostrou que eu estava errado: há muito para aprender com esta geração. Sobretudo no que se refere a um comprometimento radical com o teatro e um desejo de se reinventar permanentemente."
Em "Tríptico Samuel Beckett", Timberg vai experimentar o estranho mundo de Alvim, com seu rigor formal, o minimalismo nos gestos e a iluminação econômica muitas vezes ocultando a expressão facial do intérprete para revelar apenas contornos.
O espetáculo visita três novelas de Beckett (1906-1989), escritas na fase final de sua trajetória, nos anos 1980: "Para o Pior Avante", "Companhia" e "Mal Visto, Mal Dito".
São obras que serpenteiam por prosa, poesia e drama e que, transpostas para a cena, dão origem a uma narrativa difusa, sem diálogos ou personagens bem definidos.
A peça dá vazão a um fluxo de imagens pelo qual passam a figura de uma velha, uma criança, móveis de uma casa antiga. Tudo embebido pela sensação de um tempo que se esvai rumo ao nada.
Em tempo: também é a primeira vez que Nathalia Timberg, que hoje tem 84 anos, está em cena com um texto de Beckett.
TRÍPTICO SAMUEL BECKETT
QUANDO sáb. e seg., às 20h; dom., às 19h
ONDE CCBB; r. Álvares Penteado, 112, tel. (11) 3113-3651
QUANTO R$ 10
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
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