Análise: Na Grande Depressão, filmes de Temple eram Prozac em celuloide
Quando Shirley Temple surgiu nas telas de cinema, no início dos anos 1930, os Estados Unidos passavam pela Grande Depressão.
O desemprego subira de 3% em 1929 para 25% em 1933; cerca de 60% da população era considerada pobre pelas estatísticas oficiais, e havia mais de 2 milhões de pessoas sem teto.
Nesse cenário caótico, o aparecimento de uma menininha bonita, simpática e carismática, com seus cachinhos louros e uma resposta engraçada sempre na ponta da língua, foi um alívio para o país e para Hollywood. Filmes sonoros eram novidade —o primeiro longa-metragem falado foi "O Cantor de Jazz", em 1927— e uma das primeiras vozes que o público ouviu foi a de Shirley Temple. Todo mundo se apaixonou por ela.
Em poucos anos, ela dominou a indústria do cinema. Foi a maior atração de bilheteria de Hollywood entre 1935 e 1938. Darryl Zanuck, chefão da Twentieth Century Fox, montou uma equipe de 19 roteiristas só para escrever filmes para ela.
O mercado foi inundado por bonecas, livros e merendeiras com a cara de Temple. Seus filmes eram, na maioria, comédias chorosas em que ela dava um jeito de resolver uma situação que parecia fadada à tristeza. Eram Prozac em forma de celuloide.
O sucesso durou oito anos e 30 filmes. No início dos anos 40, Temple já havia passado de seu auge. Não era mais uma criança -pelo menos não a criança pela qual todo mundo se apaixonara.
A atriz ainda tentou reinventar a carreira, mas sua imagem, gravada no inconsciente coletivo, era forte demais para ser desafiada.
E um casamento infeliz de cinco anos com o ator John Agar (1921-2002) —que ficaria conhecido por filmes B vagabundos, como "O Cérebro do Planeta Arous" (1957)— terminou em 1950, junto com a carreira de Shirley Temple no cinema. Aos 22 anos, ela já tinha vivido o suficiente para preencher muitas vidas.
ANDRÉ BARCINSKI é jornalista e diretor do programa "O Estranho Mundo de Zé do Caixão", no Canal Brasil
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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