Aos 20 anos, Paco de Lucía já sabia todos os segredos do violão
Quando Francisco Sánchez Gómez tinha 20 anos, foi tocar na TV e o apresentador afiançou aos espectadores: "ele possui todos os segredos da grande guitarra espanhola". Sentado num banquinho, com o violão no colo, disparou sua interpretação flamenca do chorinho brasileiro "Tico-Tico no Fubá".
Nas quatro décadas seguintes de sua carreira, interrompidas hoje, Paco de Lucía acrescentaria novos segredos ao instrumento e se tornaria reconhecido no mundo inteiro. Em 2010, se tornaria doutor honoris causa pelo Berklee College de Boston.
"Ele elevou o nível técnico e de domínio do instrumento a níveis antes não imaginados, possibilitando com isso uma evolução da música flamenca tradicional. Abriu as portas da música flamenca para o mundo", disse o guitarrista brasileiro Conrado Gmeiner, estudioso de flamenco que se apaixonou pelo ritmo ao ouvir uma "rondeña" de Paco de Lucía, aos 16 anos.
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Da infância nas ruas de Cádiz, na Espanha, até sua morte, no litoral mexicano, o músico levou consigo a lembrança da mãe no nome artístico e a herança do pai na escolha da carreira.
"Paco" é o apelido em espanhol de todo Francisco. Como havia muitos xarás no bairro, cada Paco era identificado pelo nome da mãe. No caso, a portuguesa Lucía Gomes.
Filho do guitarrista flamenco António Sánchez, desde a infância o Chiquinho da dona Lúcia foi preparado para se tornar um grande instrumentista.
Antes dos 30 anos, já era famoso como um revolucionário do flamenco, ao lado de músicos como os cantores Camarón de la Isla e Tomatito. Ao final da década, já começava a esticar suas cordas para além da Espanha, tocando com Carlos Santana, Larry Coryell, John McLaughlin, Al Di Meola e outros guitarristas de jazz e rock.
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O reconhecimento mundial, porém, teve efeitos colaterais. "Seus fãs ferrenhos de flamenco são de longe superados em número pelos fetichistas da técnica de guitarra que assoviam e uivam a cada passada-relâmpago de 16 notas", escreveu Victor Anand Coelho no livro "Cambrige Companion to the Guitar", obra que conta a história do violão e de seus inovadores.
Em 1983, o cineasta Carlos Saura incluiu Paco de Lucía num "dream team" do novo flamenco dos anos 70 ao filmar uma versão atualizada da ópera "Carmen". Em uma cena de ensaio, Paco adapta a música de Bizet para o flamenco ao lado dos bailaores Antonio Gades, já falecido, e Cristina Hoyos, hoje diretora de um museu do flamenco em Sevilha, acompanhado pela voz de Pepa Flores.
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Guitarrista formado na tradição oral e espontânea do flamenco, Paco de Lucía passou a maior parte de sua carreira sem saber ler partituras. Em 1991, porém, aceitou o desafio de gravar o "Concierto de Aranjuez", obra mais conhecida do compositor Joaquín Rodrigo, tocando seu violão à frente da Orquestra de Cadaqués. Para isso, precisou aprender a ler música formalmente.
Paco de Lucía Concierto Aranjuez
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Seu forte, porém, sempre foi o improviso.
"Uma gravação ao vivo é um luxo, você pode sentir a respiração dos músicos que estão ao seu lado, é espontâneo, festivo, desce bem", escreveu ele em seu site, fora do ar hoje pela manhã. "Às vezes há falhas, mas você se encontra em tal estado de excitação que a adrenalina ajuda a encontrar soluções, quase sempre".
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