Com Vandré e sem Suplicy, Joan Baez repete a dose em 2º show em SP
O segundo show de musicista folk e ativista social Joan Baez no Teatro Bradesco, em São Paulo, neste segunda-feira (24), foi um repeteco quase idêntico ao show que ela havia apresentado no domingo, sua estreia na capital paulista. O set list foi quase idêntico ao da noite anterior, com a ausência de "Suzanne" (1967), do canadense Leonard Cohen, e "The Boxer" (1969), da dupla Simon & Garfunkel, e com o acréscimo do hino gospel "Amazing Grace", que Baez cantou à capela e que encerrou sua apresentação da segunda. No restante, a artista repetiu a performance repleta de teor político de domingo.
A principal surpresa do primeiro show, a participação muda do mítico Geraldo Vandré, se repetiu, com o autor de um dos principais hinos antiditadura se comportando de forma diferente.
Desta vez, ele estava mais alinhado, de terno, e, em vez de acompanhá-la parado no palco, ele declamou algumas palavras antes que cantora iniciasse sua boa versão em português do hino dos esquerdistas da PUC que tornou-se canção nacional de protesto. Depois de declamar alguns versos, a respeito de modos livres de existir na cidade de São Paulo, Vandré disse: "Vocês querem ouvir a minha voz? Ela é a minha voz", apontado para Baez. "Não vão mais me calar", e deixou o palco, enquanto ela entoava "Pra Dizer que Não Falei das Flores" (1968) em português claro. Inquieto, Vandré variou algumas vezes entre os assentos vagos do teatro e voltou ao palco, ovacionado, para abraçar os músicos, antes que Baez encerrasse a primeira parte do show.
O senador Eduardo Suplicy, segundo convidado da noite anterior, não compareceu, e a norte-americana entoou uma versão bem mais ortodoxa de "Blowing in the Wind", do ex Bob Dylan, apenas com seus músicos de apoio.
'SONGBOOK'
Salvo as variações acima, o segundo show de Joan Baez em São Paulo foi um repeteco da noite anterior. Novamente vestindo preto e vermelho, ela apresentou as primeiras três canções da noite no formato voz e violão. Depois, recebeu o percussionista Gabriel Harris e o multi-instrumentista Dirk Powell (banjo, violão, baixo, piano, acordeão e mandolin) para a acompanharem pela maior parte da apresentação. O último se consagrou com o banjo, em arranjos irrepreensíveis para canções bluegrass como a interpretação da tradicional música irlandesa "Lily of the West", "Joe Hill", que Baez tocou em Woodstock em 1969, e a canção "montanhesa" "Cornbread". De Powell, ela tocou a bela "Just the Way You Are", que ele acompanhou ao piano, e na qual Baez voltou a fazer um dueto com sua asssistente Grace.
"Quem dobra meus pijamas, arruma minha mala, afina meus instrumentos e ainda canta", disse a cantora folk, repetindo a anedota que havia contado em sua estreia em São Paulo.
Aparentemente mais à vontade do que em sua estreia na capital paulista –33 anos após ter tido um show no Tuca cancelado pela censura–, a cantora e violonista assumiu sua veia intérprete, cujo repertório passeia pelo "songbook" da música de raiz norte-americana. Ela repassou o clássico de autoria própria "Diamonds & Rust" (1975), que compôs para Bob Dylan e rendeu um dos momentos mais emocionantes da performance.
Antes de tocar "Deportee (Plane Wreck at Los Gatos)", de Woody Guthrie, que novamente dedicou ao amigo Pete Seeger, morto este ano, a cantora de ascendência hispânica explicou, em português, o caráter de protesto da canção, que critica a abordagem da imprensa norte-americana sobre uma tragédia que envolveu imigrantes mexicanos.
Além de "Blowing in the Wind", ela abordou a obra do ex com "Farewell, Angelina" e "It's All Over Now, Baby Blue" (ambas de 1965), em versões mais consistentes do que as que o próprio anda apresentando.
Ainda do seu catálogo de versões gravadas em estúdio, ela cantou "Imagine", de John Lennon, "The House of Rising Sun", popularizada pelos Animals em 1964, e "Gracias a la Vida", de Violeta Parra. Das releituras especiais para o solo brasileiro, repetiram-se "Mulher Rendeira" e "Acorda, Maria Bonita", que já foram interpretadas por Gonzagão, e "Cálice" (1973), de Gil e Chico Buarque.
Foi interessante notar como a cantora, sempre acompanhada por uma xícara de chá, foi aquecendo sua voz ao longo da performance e, com o transcorrer do set list, atingiu o tom mais agudo do auge da carreira. De postura digna, voz soberba e notáveis habilidades com as cordas, ela repetiu a apresentação irretocável do domingo. Nesta semana, quinta e na sexta-feira, ela encerra sua turnê brasileira com apresentações em Recife.
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