Crítica: Mateus Solano confirma ser bom ator no palco, mas peça não ajuda
Consagrado na televisão, Mateus Solano é um ator aprimorado no palco, como comprova já na abertura de "Do Tamanho do Mundo".
Sozinho em cena, desenvolve por vários minutos uma comédia física precisa, com repetição de gestos, retratando uma pessoa que perde o controle sobre os seus próprios movimentos.
Para além do humor gestual, tanto Solano como os demais atores do espetáculo se esmeram num humor carioca que remete ao besteirol —ou, melhor, a grupos como o célebre Manhas & Manias, onde começaram Pedro Cardoso e Débora Bloch.
Lenise Pinheiro/Folhapress | ||
Mateus Solano como Arnaldo e Karine Teles como sua mulher, Marta, em 'Do Tamanho do Mundo' |
É uma ironia afetada que viria dos primórdios da comédia no Rio e que tem maior efeito com temas de comportamento, por vezes falando diretamente ao público.
É assim que Isabel Cavalcanti, que faz uma tia desbocada, Lila, tem seus melhores momentos. Vale também para Alcemar Vieira, um narrador de tom sarcástico.
No meio, Karine Teles, que faz Marta, mulher de Arnaldo, personagem de Solano, evita contato com a plateia e funciona bem como suporte sério, "straight", da farsa.
A qualidade de Solano no teatro não chega a ser surpresa. É ator de longa trajetória no Rio, onde soma quase 30 peças. Foi Horácio no "Hamlet" protagonizado por Wagner Moura. Tem passagem até pelo Théâtre du Soleil, levado pela atriz Juliana Carneiro da Cunha, sua prima.
O problema da peça é o texto, de Paula Braun. É quase um esboço e não permite que encenação e representação sejam mais exploradas. É como um primeiro tratamento que prometia inspirar mais, como nos efeitos físicos da crise existencial, no marido e na compulsão da mulher à preparação de comida.
Podiam ser passagens com tratamento aprofundado, mas, ao que parece, a opção foi por salvar o texto na encenação, não aperfeiçoá-lo.
Por mais que seja inventiva, a direção de Jefferson Miranda, da Cia. Teatro Autônomo, não consegue levantar o espetáculo, contido pelos diálogos e pelas imagens pouco desenvolvidas.
"Do Tamanho do Mundo", que procura retratar uma oportunidade de reinventar a própria existência, começa ambiciosamente bem, mas se perde ou, melhor dizendo, se desperdiça no caminho.
DO TAMANHO DO MUNDO
QUANDO sex., às 21h30; sáb., às 21h; dom., às 18h
ONDE Teatro Renaissance - al. Santos, 2.233, tel. (11) 3069-2286
QUANTO R$ 60 (sex.) e R$ 80 (sáb. e dom.)
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