Grupos de artistas reclamam de aluguéis e ocupam espaços públicos
Inspirados nos movimentos sociais de sem-terra e sem-teto, grupos de artistas invadem imóveis para transformá-los em ateliês e espaços de exposição e apresentação.
Em São Paulo, desde o começo deste ano, quatro espaços públicos foram tomados por coletivos de teatro, dança, circo, artes visuais ou música que se dizem sem espaço para criar e se apresentar.
A movimentação começou no dia 20 de fevereiro, quando a Casa Amarela, propriedade do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) na região central da cidade, foi ocupada pelo Ateliê Compartilhado, grupo que reúne vários coletivos de arte.
A falta de sede própria ou a dificuldade para pagar aluguéis cada vez mais caros inviabiliza a continuidade da produção artística, segundo o dramaturgo Dorberto Carvalho, diretor da Cooperativa Paulista de Teatro e membro do Ateliê Compartilhado.
Reflexo dessa crise, o Centro Internacional de Teatro Ecum, importante casa das artes cênicas em São Paulo, fechou suas portas para o público no último domingo (1º).
Os proprietários do prédio na rua da Consolação (a mesma onde fica a Casa Amarela) pediram de volta o imóvel que alugavam para o grupo teatral, para vendê-lo. A Cooperativa Paulista de Teatro pede o tombamento do CIT-Ecum como bem cultural.
"Muitos artistas não têm espaço, e os que têm estão perdendo, não dão conta de pagar os aluguéis. Todo esse cerco fez com que alguns grupos se organizassem, o que e culminou com a ocupação da Casa Amarela", diz Carvalho.
O dramaturgo conta que o movimento começou há três anos, com um grupo ligado à cooperativa de teatro interessado em aproveitar espaços públicos ociosos.
PEDIDO
O grupo protocolou um pedido de cessão ao Ministério da Previdência, proprietário do imóvel, e a resposta foi que ele não poderia ser cedido sem ônus, segundo Carvalho.
"Não tínhamos condição de pagar, então decidimos entrar. Foi tranquilo, o portão estava aberto, não teve conflito", diz o dramaturgo.
Os ocupantes fizeram pequenas reformas (fiação, pintura, banheiros) para deixar o local em condição de atender os grupos de teatro, dança e música e os artistas independentes e sem palco.
"O espaço é público, quem quiser usar pode entrar. Mas não é para ser depósito de artista, tem que estar produzindo", afirma Carvalho.
Dois meses depois da Casa Amarela, foi a vez da chamada Casa Azul, casarão tombado pelo Patrimônio Histórico do município sob responsabilidade das subprefeituras de Vila Maria/Vila Guilherme, zona norte de São Paulo.
Em 25 de abril, artistas, moradores da região e entidades de classe entraram no local onde pretendem criar o Centro Cultural da Vila Guilherme.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
"Estamos batalhando esse centro há muito tempo, não temos espaços culturais na zona norte. Falamos com o secretário de Cultura [Juca Ferreira], com o prefeito [Fernando] Haddad, mas nada aconteceu", conta o ator Amilton Ferreira, um dos organizadores da ocupação.
Enquanto grupos da região como o Fênix, de dança, e a cia. Trololó de teatro infantojuvenil já começavam as atividades no local, a prefeitura chamou os coordenadores para uma negociação.
"Mas disseram que a gente tinha que sair antes sem dar nenhuma garantia. Não saímos", diz o ator.
A ocupação seguinte foi no 1º de maio, quando coletivos e artistas de vários Estados tomaram conta de um prédio de 13 andares na rua do Ouvidor, na região central.
O edifício pertencente à CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), do governo do Estado de São Paulo, virou palco de shows, dança, performances e festas. Ganhou também uma organização que define uma modalidade artística para cada andar.
A invasão mais recente foi a do prédio da antiga Escola Municipal de São Paulo, na praça Ramos, também no centro da cidade. O local está sendo ocupado por coletivos e artistas artistas de rua Leia mais
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade