Crítica: Atuação enérgica em peça deixa pouco espaço a nuances
Há algo que não pode ser ignorado na montagem de "Navalha na Carne" assinada por Marcos Loureiro, em cartaz em um pequeno teatro na Lapa, zona oeste de São Paulo: o tempo de duração, de 50 minutos.
Com o texto de Plínio Marcos (1935-1999) confinado em menos de uma hora de apresentação, aparentemente sem cortes, a ação dramática exige de seus três intérpretes (Anette Naiman, Fransérgio Araújo e Wilson Loria) uma posição mais enérgica em cena do que já propuseram outras encenações deste clássico dos anos 1960.
De essência naturalista, o texto se arma no conflito entre três personagens oprimidos por uma realidade degradante, imposta pela condição social, mas em boa parte mantida pela baixa autoestima e pelas tentativas frustradas de recuperá-la à custa do outro.
Na peça, a prostituta Neusa Sueli volta para o quarto de uma pensão, onde encontra o cafetão Vado. Eles se dão conta do desaparecimento de uma quantia em dinheiro e suspeitam de Veludo, um funcionário da casa, então chamado a entrar em cena.
Lenise Pinheiro/Folhapress | ||
A partir da esq., Wilson Loria, Fransérgio Araújo e Anette Naiman em 'Navalha na Carne' |
É na forma como um personagem procura atingir o outro, na maneira como as forças de dois deles se combinam para mobilizar o terceiro, que o texto cresce.
Na primeira cena, Neusa Sueli e Vado estão em oposição. Quando Veludo chega, o casal se une contra ele. Mais adiante, Veludo e Vado estão juntos, e Neusa Sueli torna-se a parte frágil.
As combinações que o autor propõe são bastante ricas, e o tempo acelerado da montagem atinge efeito paradoxal nesta raiz: a dose de violência aplicada na relação entre os personagens ganha volume em seus aspectos físicos, mas fica diluída na argamassa psicológica, com ausência de pausas e perdas de leituras.
Há achados notáveis também. Em uma cena, os personagens são colocados para se engalfinhar fora do campo de visão do espectador.
A opção potencializa o conflito e se torna um ponto alto nos irregulares 50 minutos de atuações enérgicas mas com poucas nuances.
NAVALHA NA CARNE
ONDE Teatro Garagem; r. Silveira Rodrigues, 331, Lapa, tel. (11) 99122-8696
QUANDO sex. e sáb., às 21h30, e dom., às 20h.
QUANTO R$ 40
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO regular
Livraria da Folha
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