'Ubaldo me ensinou a rir até das coisas que não merecem', diz Lima Duarte
Vencedor dos prêmios de melhor ator nos Festivais de Gramado e de Havana (Cuba) por sua atuação como o protagonista do filme "Sargento Getúlio" (1983), baseado no livro homônimo de João Ubaldo Ribeiro, o ator Lima Duarte, 85, disse nesta sexta-feira que a morte do escritor baiano "fecha uma das mais gloriosas páginas da literatura e até do cinema brasileiro".
Ubaldo morreu na madrugada desta sexta (18), aos 73 anos, vítima de embolia pulmonar, em seu apartamento, no Leblon, zona sul do Rio.
"Grande cronista, depois do Rubem Braga, é ele mesmo. As crônicas dele são maravilhosas. Sempre lembro de uma chamada 'Os Índios de Berlim', que conta uma história de quando ele foi convidado pra fazer um programa de rádio como índio brasileiro na Alemanha", lembra o ator, emocionado entre gargalhadas.
"Ele era um amor de pessoa, você não pode imaginar como ele era querido. Me ensinou a rir de tudo, especialmente das coisas que não merecem riso. Ficamos muito amigos quando gravamos 'Sargento Getúlio'. Foi uma temporada maravilhosa que nós passamos lá em Sergipe, em Poço Redondo", disse.
Na ocasião, Ribeiro também ajudou a escrever o roteiro do filme. "Transcrever o romance para a tela, a literatura para o cinema, para outra mídia, é muito complicado e foi ele mesmo que escreveu. Era um roteiro primoroso, uma verdadeira aula de brasilidade. Sabia brincar com a palavra e o encanto tudo que está por trás dela", disse.
Lima Duarte lembra ainda que o pai de Ubaldo obrigava o filho a ler um livro por dia, e disse que o amigo também tinha mania de traduzir "sambinhas" para o latim.
"Ubaldo era um erudito. Ele pegava esses sambinhas e fazia tudo em latim. Ele sabia latim, inglês, francês, alemão. Viveu muito tempo Na Alemanha. Enfim, ele era muito divertido. Acho que é o primeiro a rir dessa embolia é ele. Era um erudito, muito acima dessas coisas todas. Deve estar rindo da embolia e de todas as embolias de que somos vítimas", disse.
HERMANO PENNA
O diretor da adaptação de "Sargento Getúlio" para o cinema, em 1983, foi o cineasta cearense Hermano Penna, que ficou amigo de João Ubaldo após o filme.
"Eu, particularmente, perco um grande amigo. Há três coisas que sempre vou guardar dele: o contador de histórias incrível que era; o seu humor, com aquela risada que contagiava todo mundo; e sua generosidade comigo, não só ao me dar o livro para filmar como pelo apoio que me deu em relação ao filme", disse à Folha.
Penna falou ainda sobre a importância do autor para a literatura brasileira. Para ele, o livro "Viva o Povo Brasileiro" (1984) deveria ser a "Bíblia dos lares brasileiros". "O livro vai fundo no que nós, brasileiros, somos, com todas as nossas grandezas e misérias", disse.
"Perdemos um escritor magnífico, reconhecido no mundo inteiro, e um pensador, alguém que refletia sobre o Brasil. Se querem homenagear João Ubaldo voltem a ler, ou leiam, a obra dele, que é uma coisa extraordinária", completou.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
As cinco principais obras de João Ubaldo Ribeiro |
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