Documentário em cartaz hoje relata vida de dupla de cantoras dos anos 70
"Yorimatã quer dizer 'salve a criança da mata'", explica a musicista Lucina sobre o neologismo criado por ela e que dá título ao documentário, em cartaz na 38ª Mostra Internacional de Cinema, que conta sua história e a de sua parceira Luhli.
Artistas de MPB pouco conhecidas das novas gerações, as duas fugiram dos holofotes nos anos 1970 para viver em um sítio com seu marido, Luiz Fernando -eram um "trisal", como define Lucina- enquanto faziam álbuns independentes e compunham sucessos para amigos como Ney Matogrosso, como "Bandoleiro" e "Coração Aprisionado".
Foi, inclusive, ao procurá-las como assistente de direção do longa "Olho Nu", de 2009, sobre Matogrosso, que o diretor Rafael Saar teve a ideia de seu filme de estreia. "Eu conheci a obra delas e, depois, fui conhecer a história de vida, os detalhes" conta ele.
Luiz Fernando Borges da Fonseca/Divulgação | ||
Dupla de cantoras e compositoras Luhli e Lucina, cuja vida é contada no documentário 'Yorimatã' |
É com um ar nostálgico, por meio de gravações antigas, coletadas com as compositoras e por meio de uma campanha na internet -"como elas eram independentes, não havia quase nada em redes oficiais", diz Saar-, mesclada a conversas com amigos, que a trajetória das duas vai sendo construída, tanto na música como na vida privada.
Guttemberg Guarabyra, Elis Regina, Joyce, Nara Leão e Gilberto Gil são só alguns dos nomes da MPB que, no documentário, conversam com a dupla -ou são citados nesses encontros.
"Eu não queria fazer um filme com depoimentos, ainda mais um sobre duas personagens vivas", explica o diretor.
No entanto, à exceção de Gil, alguns rostos e referências podem passar batido para o espectador menos expert (ou mais jovem), já que não há nenhuma contextualização ou identificação nas aparições.
"Existe uma separação no cinema entre ficção e documentário que eu acho muito careta, sabe?", explica Saar. "Quando aparece um personagem novo em um filme de ficção, não tem ninguém que o introduz, por isso eu quis manter a fluidez da filmagem".
Uma das histórias dos bastidores da MPB que seriam perdidas sem o documentário vem quando Luli conta que, em uma viagem com Luiz Fernando a São Paulo, conheceu uma banda chamada Secos & Molhados, que buscava um cantor.
"Eu tenho um amigo no Rio pra apresentar pra vocês", teria dito ela, causando, assim, a entrada de Ney Matogrosso no grupo. Além disso, um dos maiores sucessos da banda, "O Vira", foi composto por ela.
POLIAMOR
Luhli -que já foi Luli- e Lucina -que já assinou Lucinha e Lucielena-, viveram com o fotógrafo de cinema Luiz Fernando durante mais de 15 anos, até a morte dele em 1990, de câncer.
O casamento heterodoxo foi decisivo para a escolha da dupla de permanecer quase anônima. "Recebemos mil propostas de fama fácil", afirma Lucina, "mas as crianças eram pequenas e nós decidimos preservá-las".
Embora aborde a relação dos três, desde que se conheceram -primeiro Luli e Fernando, que já estavam casados há sete anos quando Lucina apareceu- o filme foca na obra das duas.
"É uma história de amor, mas que poderia ter sido abordado de forma diferente, o Rafael foi muito delicado", afirma ela. "A obra em si é muito bonita, vale a história".
O longa ainda não tem previsão de estreia nos circuito comercial e deve ser exibido no Festival de Havana, Cuba, em dezembro.
YORIMATÃ
DIREÇÃO Rafael Saar
PRODUÇÃO Brasil, 2014, livre
MOSTRA qua. (22), 21h10, no MIS
Livraria da Folha
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