Drama salva 'Interestelar' da afetação científica
Poucas semanas antes da estreia global de "Interestelar", o diretor Christopher Nolan comparou seu último trabalho a "2001 "" Uma Odisseia no Espaço", o clássico de Stanley Kubrick cuja influência se estende da saga "Star Wars" a "Gravidade".
Fora esse recurso de marketing, a nobre referência serve para distinguir "Interestelar" dos espetáculos movidos a pura ação.
A ambição não consiste em se colocar no patamar hoje incomparável de Kubrick, mas em pretender fazer um filme que pareça ser mais que entretenimento.
Para isso, Nolan incorpora a teoria da relatividade, hipóteses acerca do universo quântico e busca traduzir difíceis questões da física em sequências de forte impacto visual.
Obviamente, esse aspecto de "Interestelar" funciona para atrair o público que cultua o cineasta como um guru, que teria tornado as narrativas banais dos blockbusters mais complexas com uma suposta profundidade.
Esta faceta científica e metafísica de "Interestelar", contudo, é a que menos satisfaz o que a maioria do público procura no espetáculo.
O drama da sobrevivência da espécie e o da separação de uma família parecem menores em ambição, mas são eles que salvam "Interestelar" de se tornar apenas uma maçante sobreposição de teses.
Quando fala de sobrevivência, o longa aborda o progresso do desastre ambiental que já vivemos. Mesmo que o mundo retratado no filme ainda se pareça com o nosso, sabe-se que o que está ali é o que sobrou e não deve mais durar.
Nesse contexto, Nolan confirma a força espetacular de seu cinema ao recriar uma natureza não passiva e assombrada por forças, que lembra os melhores filmes de M. Night Shyamalan, diretor de "O Sexto Sentido".
Nesse mundo pré-apocalíptico, desenvolve-se o drama do pai que tem de sacrificar seus vínculos individuais, situação que humaniza e garante que o filme emocione.
Só quando os personagens de "Interestelar" decidem atravessar os buracos negros do universo para atingir outra dimensão vem a vontade de gritar: "Menos, Nolan!".
INTERESTELAR
(Interstellar)
DIREÇÃO Christopher Nolan
ELENCO Matthew McConaughey, Anne Hathaway e Michael Caine
PRODUÇÃO EUA e Reino Unido, 2014, 10 anos
AVALIAÇÃO bom
Livraria da Folha
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