Crítica: Punk como personagens, obra rejeita fórmulas de filmes teens
Duas garotas de 13 anos, meio sem querer, vão formar uma banda de punk rock. A época é o início dos anos 1980 e todas as pessoas em volta delas insistem em dizer que o punk morreu. Que nada. Enquanto o cineasta sueco Lukas Moodysson realizar filmes sobre adolescentes com seu olhar desafiador para o mundo, o punk viverá.
Com 11 filmes no currículo, Moodysson, 45, já dirigiu jovens em dois filmes com ótima passagem por festivais: "Amigas de Colégio" (1998) e "Para Sempre Lylia" (2002).
Agora, em "Nós Somos as Melhores" (2013), ele se baseia numa HQ criada por sua mulher, Coco Moodysson, para mais um retrato teen.
O filme é punk na medida em que suas protagonistas se rebelam contra absolutamente tudo. A família, a escola, os códigos de conduta e vestuário, o que os outros gostam de ler ou escutar. Enfim, tudo enche as meninas de tédio.
Divulgação/Per-Anders Jorgensen | ||
Cena do filme 'Nós Somos as Melhores', de Lukas Moodysson |
As protagonistas Bobo e Klara são protestos ambulantes personificados em garotas que tentam ser feias para negar sua adesão ao que todos esperam delas –Klara usa cabelo moicano e Bobo corta o seu para parecer um menino.
E as duas não têm exatamente os mesmos problemas. Uma sofre com a mãe solteira de comportamento errático. A outra tem pais legais, mas eles são tão legais que deixam a garota envergonhada em várias situações.
Entre episódios de bullying pesado, as duas formam uma banda de rock. Como não sabem tocar nada, a opção pelo punk é natural. Com bateria e baixo emprestados de um centro comunitário para jovens, começam a surrar seus instrumentos. E, claro, passam longe de qualquer coisa parecida com música.
O rumo delas muda quando surge a instrumentista talentosa Hedvig, outra jovem da idade delas, mas loira e linda, uma princesa irretocável.
TRANSFORMAÇÃO
O roteiro ganha uma outra perspectiva com a formação do trio. Enquanto Bobo e Klara cresceram num ambiente agressivo a elas, Hedvig está trocando sua adolescência "perfeita" por um mundo conturbado. E logo trata de cortar o cabelo para virar punk.
Moodysson se afasta de dois modelos consagrados dos filmes para adolescentes.
O primeiro mostra garotos desajustados que conseguem se enturmar ("A Garota de Rosa Shocking", de 1986, e outros do americano John Hughes). Já o segundo reúne crônicas de iniciação sexual, geralmente feitas com boçalidade por americanos e com certa sensibilidade por franceses.
Mas transar e conquistar um lugar na turma não estão no topo da lista de prioridades dessas suecas. Se elas passam uma mensagem para a plateia, esta é algo como "lute muito por aquilo em que você acredita". E o espectador sai do cinema mais feliz.
NÓS SOMOS AS MELHORES
(VI är Bäst!)
DIREÇÃO Lukas Moodysson
ELENCO Mira Barkhammar, Mira Grosin, Liv LeMoyne
PRODUÇÃO Suécia/Dinamarca, 2013; 12 anos
AVALIAÇÃO ótimo
Livraria da Folha
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