Crise econômica faz orquestras dos EUA encolherem
Os compositores por muito tempo sonharam com orquestras maiores. Na época de Mozart (1756-91), ele se vangloriou em uma carta de ouvir uma orquestra "com 40 violinos" tocando uma de suas sinfonias.
Mas dadas as dificuldades que algumas orquestras americanas enfrentam na economia pós-crise, elas estão se inspirando no mundo empresarial e pensando pequeno: muitas estão cortando pessoal, eliminando postos de tempo integral e compensando com a contratação de músicos temporários, menos bem pagos.
A Orquestra Sinfônica de Atlanta pôs fim a uma disputa trabalhista ao chegar a um novo contrato, que, na prática, a tornará menor por alguns anos –o que a deixa em companhia de grandes orquestras de Filadélfia, Detroit, Indianápolis, Minnesota, entre outras.
Hiroyuki ito - 30.abr.2014/The New York Times | ||
A Orquestra Sinfônica de Atlanta em apresentação em Nova York em abril |
A Sinfônica de Atlanta, cujo contrato coletivo dispunha um mínimo de 95 músicos alguns anos atrás, reduziu esse mínimo a 88 postos em 2012. Neste ano, pelo novo contrato, tem 77 integrantes –quadro que caiu por conta de aposentadorias, mortes e demissões. O contrato prevê prazo de quatro anos para que se retorne a 88 músicos.
Algumas das orquestras dizem que podem manter a qualidade por meio da contratação temporária de músicos talentosos, e apontam que até os grandes conjuntos, financeiramente saudáveis, empregam substitutos.
Os músicos, porém, advertem que depender demais de freelancers coloca em risco aquilo que torna uma orquestra grande: a coesão que surge de muitos anos de trabalho conjunto, as tradições que são transmitidas, e até mesmo a capacidade de adivinhar o que o maestro está tentando sinalizar ao erguer uma sobrancelha ou fazer um leve movimento do pulso.
Michael Kurth, baixista da Sinfônica de Atlanta, por exemplo, provocou debate com um texto na internet, em que lamenta que em anos recentes sua seção foi reduzida de oito para cinco músicos.
TEMPOS ÁUREOS
Por muitos anos, a história das orquestras foi de expansão. Tim Carter, professor de musicologia na Universidade da Carolina do Norte, afirma que durante o século 19 o tamanho das orquestras cresceu dramaticamente.
"Existiam três elementos que se alimentavam uns aos outros", diz ele. "Espaços maiores para as apresentações, que encorajavam os compositores a criar peças para orquestras maiores, e isso por sua vez requeria orquestras com mais músicos."
Robert Flanagan, professor emérito de economia da Universidade Stanford, escreveu um livro sobre os perigos econômicos para as orquestras sinfônicas e diz que os recentes cortes representam uma reversão do crescimento do final do século 20, quando muitas orquestras americanas começaram a pagar mais e a se desenvolver.
"Agora, basicamente, as orquestras querem transformar sua mão de obra de custo fixo em custo variável", diz.
Bruce Ridge, presidente da Conferência Internacional de Músicos Sinfônicos e de Ópera, diz que esses cortes eram imprevisíveis. "Nossa crença é a de que nenhuma organização de arte conquista o sucesso por meio de cortes, e nenhum negócio jamais resolveu seus problemas financeiros ao oferecer um produto inferior."
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