Atom Egoyan explora o submundo da pedofilia em longa de suspense
Em "À Procura", seu mais recente filme, o diretor Atom Egoyan ("O Doce Amanhã", "O Preço da Traição") resolveu remexer num assunto pra lá de tabu: pedofilia.
Criou uma trama sobre o longo sequestro de uma menina, procurada por anos a fio pelos pais e pela polícia de Niagara Falls, no Canadá. Bolou também a figura de um criminoso ardiloso, obcecado por Mozart, que integra uma rede de pedófilos altamente tecnológica.
"Queria tratar da relação entre o sequestrador e a vítima depois que ela cresce", diz à Folha o cineasta canadense de origem egípcia, filho de pais armênios. "Depois que os anos passam, é como se aquilo virasse um estranho casamento."
Ryan Reynolds ("Lanterna Verde") e Meirelle Enos ("Se Eu Ficar") interpretam o casal Matthew e Tina, que se veem destroçados após o sumiço da filha. Rosario Dawson ("Sin City") faz a investigadora obstinada em desbaratar casos de sequestro de crianças na área.
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Rosario Dawson interpreta a investigadora Nicole no thriller 'À Procura' |
"É uma praga que está por toda a parte, ao nosso redor. Todos os casos são parecidos: envolvem gastos monumentais dos governos, longuíssimas investigações e, sobretudo, a dor de algumas pessoas", diz o diretor, que se inspirou num caso real ocorrido na região.
No filme, Cassandra, a menina sequestrada, é mantida por dez anos num dos quartos de seu sequestrador. Vigiada o tempo todo, ela é usada pelo criminoso para atrair outras crianças por meio de sites.
Ao mesmo tempo, Cassandra é obrigada a participar de um jogo com o sequestrador, que implanta câmeras no local em que Tina trabalha para observar a angústia da mãe. "A menina vira uma espécie de Sherazade moderna: como está adulta e não desperta mais o interesse do criminoso, se mantém viva por meio desse jogo."
PARANOIA
Ambientado sempre nos invernos, com uma trama que vai e volta no tempo, "À Procura" é um thriller com um quê de onírico. "Queria um senso de paranoia, que as pessoas não pudessem dizer o que é real e o que não é", afirma o cineasta.
Em maio, "À Procura" teve uma recepção morna, recebeu algumas vaias e uma enxurrada de críticas negativas após ser exibido em Cannes, festival que já havia premiado Egoyan em 1997 por "O Doce Amanhã".
Algumas das críticas apontaram uma espécie de fetichismo da violência, especialmente quanto ao personagem do sequestrador, um voyeur. "Discordo", rebate Egoyan. "Não é algo realista. Eu evitei a todo custo ser explícito."
"Não sei o que houve", diz, a respeito das críticas. "Nunca tinha passado por algo como aquilo. As pessoas deveriam ter levado esse filme mais a sério."
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