Crítica: Filme com traço de Guazzelli exibe requinte do país na área
Adaptar para animação o fenômeno teatral "Tangos & Tragédias", baseado em canções e nas performances ao vivo de dois atores-músicos-cômicos, poderia ser uma ideia boa apenas no papel.
"Até Que a Sbórnia nos Separe", no entanto, reafirma o que a maior parte do público ignora: a animação é, hoje, um dos núcleos criativos mais bem-sucedidos e premiados do cinema brasileiro. Apesar de reconhecido mundo afora, continua desconhecido aqui.
Depois do mágico "O Menino e o Mundo", filme de Alê Abreu exibido no ano passado, o trabalho da dupla Otto Guerra e Ennio Torresan Jr. ajuda a desmentir quem ainda diz que o cinema brasileiro não sabe contar histórias.
Divulgação | ||
Cena do filme "Até que a Sbórnia nos Separe", de Otto Guerra e Ennio Torresan Jr. |
Como o título sugere, o filme –que tem concepção visual e codireção de arte de Eloar Guazzelli– narra as aventuras de dois amigos de farra e confusão. A vida de músicos faz de Kraunus e Pletskaya seres à margem, artistas mambembes e sem rumo.
Essa diferença de comportamento se reproduz no lugar onde vivem. A Sbórnia é um lugar à parte. Separada do continente, isolada por um muro, a nação dos protagonistas mistura características de como era o mundo comunista até o fim dos anos 1980 e o sentimento gaúcho de que o Rio Grande do Sul não é o Brasil.
Kraunus vê o mundo como um exilado. Quando a modernidade invade o país, ele só enxerga vulgaridade nas novidades. Já Pletskaya apaixona-se pela filha de um empresário vigarista que explora um mineral no subsolo de Sbórnia e provoca uma catástrofe.
A mistura de aventura e sátira social abre as perspectivas do filme, que não deixa insatisfeito quem só pede ação e provoca o público que compreende subtextos.
Pena que a estratégia de lançar o filme em pleno janeiro teime em considerar a animação como sinônimo de cinema infantil. Pois o humor ácido de "Até que a Sbórnia nos Separe" e seu desenho cheio de achados visuais vai além das aventuras inofensivas das produções Disney e Dreamworks em cartaz.
ATÉ QUE A SBÓRNIA NOS SEPARE
DIREÇÃO Otto Guerra e Ennio Torresan Jr.
PRODUÇÃO Brasil, 2013, 10 anos
AVALIAÇÃO ótimo
Livraria da Folha
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