Crítica: Com repertório previsível, novo disco é popular no sentido medíocre do termo
Imagine que um dia Bob Dylan decida largar a guitarra para gravar um disco de clássicos da bossa nova. Ou que João Bosco troque seu violão por uma pick-up de DJ para se dedicar à música eletrônica.
Guardadas as proporções, a canadense Diana Krall fez algo semelhante em "Wallflower", seu 12º álbum.
Não é fácil entender por que uma talentosa pianista de jazz, que também sabe cantar, toca só em três das 12 faixas oficiais desse álbum.
Quem assume o piano -tocando, aliás, de maneira bem burocrática- é o produtor David Foster, conhecido por trabalhos com figurões da música pop mais convencional, como Céline Dion, Barbra Streisand e Andrea Bocelli. Detalhe: atualmente, ele é o presidente da gravadora Verve.
Dirigido ao segmento de público conhecido nos EUA como "pop adulto", "Wallflower" traz um repertório previsível.
Foster e Diana escolheram canções pop que frequentaram as rádios e paradas de sucesso, nas décadas de 1960 e 1970, assinadas por medalhões do gênero, como Elton John, Don Henley e Randy Newman, entre outros.
A versão de "California Dreamin", o hit do quarteto The Mamas & The Papas que abre o CD, já antecipa a atmosfera fria, meio deprimente, que marca quase todas as faixas. A versão de Diana, revestida por cordas melosas, transforma essa canção solar em uma viagem ao Polo Norte. Pior ainda: o ritmo é marcado, acredite, por um bipe eletrônico.
Em "Superstar" (canção de Leon Russell, que fez sucesso com a dupla Carpenters), Diana força uma certa rouquidão na voz -o velho truque para soar sensual- que resulta artificial. As cordas açucaradas e os vocais de apoio, no arranjo de "Operator (That's Not The Way It Feels)", de Jim Croce, fariam mais sentido em um disco da estrelinha country Shania Twain.
Quem conhece os últimos álbuns de Diana Krall sabe que ela já vem evitando o jazz há alguns anos. "Quiet Nights" (2009) era um disco de bossa nova que parecia feito na década de 1960.
Em "Glad Rag Doll" (2012), ela resgatou canções dos anos 1920 e 1930 com uma pegada pop. Agora Diana se superou: "Wallflower" é seu disco mais pop, no sentido mais medíocre desse termo.
WALLFLOWER
artista Diana Krall
gravadora Verve/Universal
quanto US$ 6,99 (R$ 20) no iTunes
avaliação regular
Livraria da Folha
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