Análise: Piadas ruins fazem de cerimônia do Oscar um tédio
Neil Patrick Harris, ator conhecido pela série de TV "How I Met Your Mother", foi um dos apresentadores mais insossos e sem graça que o Oscar já teve.
Não apenas seu roteiro era medíocre, com trocadilhos pouco inspirados e piadas sem graça, mas sua total falta de carisma e de "timing" cômico causaram momentos constrangedores de silêncio, em que a única risada no teatro vinha dele mesmo. Dava tristeza ver Eddie Murphy na plateia enquanto Harris estragava piada em cima de piada.
A impressão é que essas premiações estão apostando cada vez mais em apresentadores dóceis e que não "brilhem" mais que a cerimônia. Especialmente depois que o comediante britânico Ricky Gervais esculhambou todos os astros do cinema no Globo de Ouro de 2011.
Logo no início da cerimônia, Neil Patrick Harris fez um comentário sobre o total arrecadado nas bilheterias norte-americanas pelos oito concorrentes: "Esses filmes renderam US$ 600 milhões, e 'Sniper Americano', sozinho, fez metade disso".
A frase tinha a intenção de ser elogiosa aos filmes, mas acabou deixando claro uma realidade dura para Hollywood: os filmes do Oscar, hoje, perderam muito do apelo de bilheteria que o prêmio já teve. Excetuando "Sniper Americano", o único, entre os concorrentes, produzido por um grande estúdio, os outro sete filmes, somados, arrecadaram US$ 300 milhões, uma média bem baixa para filmes tão conceituados.
"Birdman", por exemplo, fez pouco mais de US$ 37 milhões nos EUA, o que o coloca na 82ª posição no ranking dos filmes lançados nos últimos 12 meses. "Boyhood" foi ainda pior: ficou em 100º.
É pouco. O público adulto parece ter migrado para séries de televisão, enquanto Hollywood fatura bilhões com adaptações de gibis e refilmagens.
E se a Academia pretende usar a cerimônia do Oscar, ainda assistida por bilhões de pessoas, para alavancar as bilheterias dos filmes concorrentes, precisa pensar em fazer uma festa mais divertida, porque a de 2015 foi um tédio só. Apresentador bom não falta: Eddie Murphy, Tina Fey e Jim Carrey estão por aí.
ANDRÉ BARCINSKI é jornalista e autor do livro "Pavões Misteriosos" (Três Estrelas)
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