Beatles, Dylan e AC/DC guiam coleção de boas canções pop de Odair José
Nos anos 1970, Odair José cometeu um grande pecado: fez sucesso. Suas canções –crônicas de pequenas tragédias suburbanas embaladas em pop radiofônico– foram execradas pela patrulha do "bom gosto" da MPB e rotuladas de brega e cafona.
A vaia que levou no festival Phono 73, quando cantou "Vou Tirar Você Desse Lugar" com Caetano Veloso, foi um momento emblemático daquela época de intensos conflitos ideológicos e estéticos, em que o público da MPB via o sucesso comercial como sinal de entreguismo ou conivência com a ditadura.
Felizmente, a carreira de Odair José tem sido reavaliada nos últimos anos, e novas gerações estão tendo a chance de analisar sua obra sem as circunstâncias políticas e sociais que o condenaram a rótulos imerecidos.
Odair é um de nossos maiores artistas pop, um compositor com talento imenso para criar melodias que colam na memória e letras que são simples e instigantes. "Dia 16", seu 35º disco de estúdio, é uma coleção de canções que poderiam fazer sucesso de rádio, se nossas emissoras não fossem tão dependentes de jabá e armações.
Eduardo Knapp/Folhapress | ||
Odair José posa diante de painel em restaurante de SP |
É impossível que um programador de FM ouça uma faixa como "Encontro", um pop solar e animado com um violão meio folk e um refrão absolutamente matador, e não tenha a certeza de que aquilo faria sucesso.
O disco traz influências de vários heróis de Odair. Algumas ele próprio cita, como a guitarra à Roy Orbison da baladona "Sem Compromisso" e o riff à Beatles de "Começar do Zero", que lembra "Drive My Car". Outras ele não menciona, mas são evidentes: o teclado que abre "A Moça e o Velho" emula Dylan em "Like a Rolling Stone", para depois cair num rock brejeiro com uma letra divertida que poderia ser Raul Seixas.
Uma das faixas mais surpreendentes é "Morro do Vidigal", uma balada autobiográfica –"Eu já morei em tantos lugares / Muito eu já andei por aí /Eu já fiquei com a cabeça nos ares / Às vezes eu até me perdi"– que pode bem ser uma lembrança da dureza de sua vida quando largou o conforto de Goiás, no fim dos anos 1960, para tentar a carreira musical no Rio.
Mas nada prepara o ouvinte para a faixa de abertura do disco, "Dia 16", um hard rock à AC/DC, com guitarras pesadas e um refrão-chiclete que toda banda daria um braço para ter feito. Alô, rádios de rock, o que estão esperando?
ANDRÉ BARCINSKI é jornalista e autor do livro "Pavões Misteriosos" (Três Estrelas)
DIA 16
ARTISTA Odair José
GRAVADORA Saravá
QUANTO R$ 24,90
AVALIAÇÃO muito bom
Livraria da Folha
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