Canadense observa vida real para criar dança das relações
Casais tentam se encontrar, se unir e se diferenciar. São vistos em cafés, vagões de metrô, centros culturais.
E, de uma nova forma, na dança do "Complexo dos Gêneros", que a companhia da canadense Virginie Brunelle apresenta pela primeira vez no Brasil nesta sexta (20).
Virginie explora na coreografia a busca de identidade em um relacionamento amoroso, o inevitável descompasso do desejo e a dificuldade de comunicação.
Marie Philibert-Bubois/Divulgação | ||
Cena da coreografia "Complexo dos Gêneros", da candense Virginie Brunelle |
Difícil, mas sem dramas. "Há algo de lindo nesse desencontro inevitável e na vontade se comunicar. São relações complicadas, às vezes, mas é a vida", diz à Folha.
Ela dá a entrevista em um café da Vila Madalena, em São Paulo. Acaba de chegar de Montreal e, após cerca de 12 horas de voos, pede desculpas pela dificuldade de se expressar, misturando palavras em inglês e francês, língua oficial da província de Québec, onde vive.
Os ruídos na comunicação são compensados por gestos, expressões corporais e faciais. De certo modo, o que faz na sua dança.
Como exemplo, observa os gestos e posturas de um casal no café paulistano. Os dois conversam olhando para pontos opostos.
Ela conta que há cenas parecidas no espetáculo, em que três duplas de bailarinos representam diferentes tipos de casal, –cada um incorporando um padrão universal, segundo a coreógrafa.
"Observo as pessoas para representar a vida. Meu trabalho não é sobre a forma, é sobre as emoções. Parto dos movimentos, mas, no palco, não quero que o público veja o bailarino, mas sim o ser humano", diz.
Para encontrar essas emoções, Virginia usa imagens que surgem em sua mente naqueles momentos entre a vigília e o sono. "Explico essas imagens aos bailarinos e peço para as traduzirem em seus corpos", conta.
Além da pesquisa onírica e da observação de casais na "vida real", a coreógrafa também incorpora referências da música e do cinema em suas criações.
Violonista clássica, ela usa a música erudita com maestria na coreografia. "Complexo de Gêneros" dispensa minimalismos e se joga no drama das composições de Mozart e Beethoven, entre outros.
Do cinema, Virginie traz a influência do diretor Lars von Triers ("Ninfomaníaca") e do roteirista Charlie Kaufman ("Quero Ser John Malkovich"), que considera "irmãos artísticos". (IARA BIDERMAN)
COMPLEXO DOS GÊNEROS
QUANDO sex. (20) e sáb. (21), às 21h
ONDE Sesc Pompeia, r. Clélia, 93, tel. 11-3871-7700
QUANTO de R$ 12 a R$ 40
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
Livraria da Folha
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