Crítica: Longa foge do exotismo para exibir dia a dia na Amazônia
Na trajetória de Jorge Bodanzky como documentarista, questões sociais e problemas ambientais costumam estar sempre associados numa corrente de dependências.
Trata-se, desde o clássico "Iracema, uma Transa Amazônica" (1974), de expor como o impacto da mentalidade predatória que acompanha a história do Brasil estende-se da exploração insustentável dos recursos naturais até as relações sociais.
Divulgação | ||
Garotos mergulham no rio numa cena do documentário 'No Meio do Rio, Entre as Árvores' |
"No Meio do Rio, Entre as Árvores" revela que pouco ou nada mudou naquele espaço em que as comunidades tentam se virar com o que lhes sobra, enquanto a depredação segue um ritmo intenso, apesar das tentativas de controlar seu impacto.
O documentário, de 2010, mas que só agora encontra espaço de exibição, é resultado de oficinas de vídeo, circo e fotografia oferecidas a comunidades dentro de reservas ambientais do Alto Solimões.
Suas imagens priorizam, portanto, a captação feita pelos próprios habitantes, seguindo a concepção de que esse procedimento oferece um ponto de vista intrínseco e mais transparente do que alcançaria qualquer "olhar estrangeiro".
O efeito mais imediato da escolha aparece no registro do cotidiano, das práticas de trabalho e da economia e na relação com o ambiente.
Os moradores se entrevistam, enquadram os gestos do trabalho, focalizam sem hierarquia o que consideram bonito e feio e, assim, projetam uma imagem própria do que veem e do que vivem.
Um dos efeitos desse procedimento é que, em vez de se concentrar no exotismo e nas diferenças, recorrentes nos documentários sobre a Amazônia, o filme adota um ângulo bem comum, focalizando problemas básicos de saúde, educação, emprego e sobrevivência.
Apesar de em alguns momentos "No Meio do Rio, Entre as Árvores" correr o risco de se confundir com as reportagens recheadas de queixas e denúncias, a equipe de Bodanzky adota a cautela de não reduzir os nativos a vítimas de uma teia de poderes.
Sua vantagem consiste em torná-los visíveis, concretos, em vez de idealizá-los.
NO MEIO DO RIO, ENTRE AS ÁRVORES
DIREÇÃO Jorge Bodanzky
PRODUÇÃO Brasil, 2010, livre
AVALIAÇÃO bom
QUANDO em cartaz
Livraria da Folha
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