CRÍTICA
Estreia no cinema de criador de 'Mad Men' é desajeitada, mas cheia de alma
Aguardada estreia na direção de longas-metragens de Matthew Weiner, criador da brilhante série de TV "Mad Men", "Para o que Der e Vier" foi um fracasso de público e crítica nos Estados Unidos.
O resultado, porém, está longe de ser um desastre completo. Desconjuntado? Sim. Dispersivo? Também. Mas com alguma personalidade e muita alma.
É provável que parte da frustração com o filme surja junto com a alta expectativa criada pela assinatura de Weiner. Mas outra parte pode ser creditada ao fato de "Para o que Der e Vier" ser um objeto inclassificável.
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Cena do filme "Para o que Der e Vier" |
No primeiro terço da projeção, parece que estamos vendo uma clássica "stoner comedy", uma comédia de amigos chapados de maconha.
Os protagonistas são Ben Baker (Zach Galifianakis), adulto infantilizado que passa o dia fumando maconha no sofá de casa, e seu amigo Steve Dallas (Owen Wilson), superficial homem do tempo de uma estação local de TV.
Eles vivem uma relação simbiótica: Steve sustenta o amigo de infância, e Ben lhe dá o conforto emocional que ele não encontra nas relações com as mulheres.
Galifianakis repete o papel de maluco adorável que celebrizou em "Se Beber, Não Case!" (2009), e Owen Wilson reprisa o malandro sedutor de "Penetras Bons de Bico" (2005) e outros tantos filmes.
Quando tudo parece programado para mais uma comédia nessa linha, o filme dá sua primeira virada -e, no segundo terço, se torna uma comédia dramática familiar com um pouco de romance.
Ben recebe a notícia da morte do pai, reencontra a irmã gananciosa (Amy Poehler) e descobre que herdou uma fazenda e ficou milionário. De quebra, conhece sua madrasta jovem, linda e meio hippie (Laura Ramsey), por quem Steve se apaixona.
E, quando estamos nos acostumando ao romance, mais uma virada -e, no terço final, o filme se torna um pesado drama psiquiátrico. Ben percebe que não é apenas um esquisitão simpático, mas um esquizofrênico que precisa de tratamento.
Parece que Weiner tentou encaixar em um longa de duas horas o arco dramático de um personagem em uma temporada inteira de série.
Desse descompasso, nasce um filme desajeitado, cheio de arestas, mas com a beleza da imprevisibilidade e algo relevante a dizer sobre inadequação -o que é mais que certos filmes "redondinhos" costumam oferecer.
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