Com show em Vancouver, no Canadá, U2 testa plateia
Um som de rock sem dúvida feito para arenas, alto e claro, encheu o Pacific Coliseum em Vancouver.
The Edge soltou riffs de dois acordes com sua guitarra, os tom-tons e címbalos de Larry Mullen Jr. faziam o ritmo, o baixo de Adam Clayton vibrava, e Bono soltava uivos de "uh-hu" num falsete exultante.
O U2 ocupou a casa de shows durante um mês para ensaiar sua turnê "Innocence and Experience", que começa na Rogers Arena, em Vancouver, na quinta-feira. Naquele momento, estava tocando "Elevation". "Faz quatro anos que tocamos isso?" perguntou Bono. "Nada mal!"
Kevin Winter/AFP | ||
Da esq. para a dir., Larry Mullen Jr., Bono, Adam Clayton e The Edge, os integrantes do U2 |
A banda, que lançou seu álbum de estreia em 1980, testará o lugar que ocupa no presente.
Pelo fato de a Apple ter distribuído de graça milhões de exemplares de seu álbum de 2014, "Songs of Innocence" —o 13° álbum de estúdio e o primeiro desde "No Line on the Horizon", de 2009-, a banda não tem como avaliar o impacto do álbum pelas medições de vendas.
E "Songs of Innocence" enfrentou uma reação negativa furiosa online de pessoas que não são fãs do U2 e rejeitavam o fato de o álbum ter aparecido em seus acervos de música ou seu iCloud como "comprado", apesar de ter sido gratuito.
Enquanto não apresentar as canções do álbum na turnê, o U2 não vai saber ao certo se alguém prestou atenção ao seu trabalho.
"A ideia de que pode haver toda uma parte do público ali fora que ainda não sabe se gosta da banda ou não é super instigante para nós", comentou Bono. "Isso nos dá vontade de sair e procurar esse público, se ele existe. Pode ser que não exista."
Depois da gigantesca "360° Tour" que a banda fez entre 2009 e 2011, lotando estádios no mundo com um palco enorme e cheio de efeitos, "Innocence and Experience" será mais modesta.
A nova turnê vai usar vídeos em alta resolução e adotar uma nova abordagem ao som em arenas; ela é tecnologicamente avançada e está determinada a ser mais íntima. Aparentemente, não foi prejudicada pela reação à iniciativa da Apple.
De 1,2 milhão de ingressos disponibilizados para os 68 shows da turnê, 98% estão esgotados, incluindo todos os europeus.
Apesar do grande esforço internacional da turnê "360°", o álbum "No Line on the Horizon" não rendeu um single de sucesso, algo que o U2 tanto preza -canções como "Where the Streets Have No Name" e "Pride (In the Name of Love)".
A banda se propôs a disciplinar seu método de composição, partindo de elementos fundamentais de guitarra acústica, em lugar dos experimentos sônicos de "No Line on the Horizon". E optou por trabalhar com produtores mais jovens.
Mas as letras muitas vezes remetem ao passado, mantendo distância do rock voltado ao público teen. "Chegar à consciência pública neste momento é muito difícil, então procuramos pensar em maneiras para fazer o álbum chamar a atenção das pessoas", comentou The Edge.
"A ideia de lançar o álbum e vê-lo desaparecer por uma toca de coelho, que é algo que parece acontecer com tantos álbuns hoje em dia, isso seria arrasador."
Um mês depois do lançamento, a Apple anunciou que 26 milhões de pessoas tinham descarregado o álbum inteiro.
Mas algo que o U2 e a Apple enxergavam como um presente foi recebido pela blogosfera, onde as reações são instantâneas, como spam, uma invasão dos aparelhos pessoais e um exercício de poder de uma banda de rock e uma grande empresa de tecnologia que exageram sua própria importância.
A banda divulgou um pedido parcial de desculpas, e a Apple ofereceu uma maneira de deletar o álbum com um só clique.
Mas, mesmo com toda a reação negativa, as vendas da versão física "edição de luxo" do álbum, que saiu em outubro, o levaram a figurar entre os Top 10 da Billboard. A Nielsen SoundScan já contabiliza vendas de 101 mil exemplares.
Então, em novembro, a divulgação adicional de "Songs of Innocence" foi interrompida justamente quando a banda estava prestes a passar uma semana aparecendo diariamente no "The Tonight Show Starring Jimmy Fallon".
Foi quando Bono sofreu um acidente de bicicleta em Nova York, fraturando sua cavidade ocular, seu ombro, cotovelo e mão esquerda. O vocalista ainda se recupera, mas se diz preparado para os shows, previstos para ter uma primeira parte fixa e uma segunda variável.
A plataforma tripla do U2 ocupa quase todo o espaço do Pacific Coliseum. É um palco retangular grande (uma faixa da qual pode se iluminar para formar um "i", de "innocence"), um palco menor ("e" de "experience") e uma passarela unindo as duas.
"Eles estão aqui, na arena, e queremos levá-los ao colo da plateia", disse o designer de produção Es Devlin, que já trabalhou com Kanye West e Lady Gaga.
"Songs of Innocence" é o álbum mais especificamente autobiográfico do U2 seus títulos incluem "Cedarwood Road", a rua onde Bono passou sua infância, e "Iris", o nome de sua mãe, que morreu quando ele era pequeno.
A metade sombria do concerto -"o fim da inocência", como diz Bono- é "Raised by Wolves", sobre um atentado em Dublin que matou 33 pessoas em 1974.
Fiel ao passado do U2, a segunda metade promete cura e amor. "No dia 14 vamos descobrir se o álbum funcionou e se a experiência deu certo", disse Bono. "Se as pessoas conhecerem as letras e sentirem as músicas, então terá dado certo."
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