'O Desejo da Minha Alma' troca delicadeza por chantagem emocional
Uma garota atônita diante das ruínas de uma casa chama pela mãe, chora, esforça-se em arrancar pedras e telhas numa tentativa maior que suas forças para salvá-la.
A imagem forte, logo na abertura de "O Desejo da Minha Alma", atrai por seu poder de choque. Ali está uma sobrevivente de um terremoto, uma criança sem saber o que fazer nem para onde ir sem os pais.
Em seu primeiro longa, o japonês Masakazu Sugita investe no território da infância, um lugar em que a indeterminação das regras e o impulso de descobertas atrai com frequência jovens realizadores.
A diferença é que em vez do elemento lúdico, Sugita tem de lidar com temas como abandono, perda, luto e melancolia.
Ao lado de Haruna, entra em cena seu irmão menor, Shota, que levou uma pancada, mas se recupera num hospital. Enquanto a menina tem consciência da morte e lida com o sentimento de perda de modo mais direto, o garoto nada sabe, espera um vago retorno dos pais e deixa o sofrimento em suspenso.
As crianças são levadas para a casa dos tios, que reinventam um cotidiano para elas. Na escola, novos laços se estabelecem, mas o vazio persiste. Como filmar um processo de recomposição tão difícil? Com delicadeza, certamente.
Mas, a partir do momento em que o filme inicia a passagem do luto para a reinvenção da vida, o diretor abandona a tática e passa a praticar chantagem emocional.
Closes que reiteram melancolia e trilha sonora minimalista são alguns procedimentos que se repetem até enjoar.
Ao contrário de seu contemporâneo Hirokazu Kore-eda, hábil em sondar a infância como um território rico em revelações, Sugita impõe a suas crianças um olhar apenas adulto e sentimentalista. Assim, deixamos de sentir com elas e sofremos porque são mostradas como coitadinhas.
O DESEJO DA MINHA ALMA
DIREÇÃO Masakazu Sugita
PRODUÇÃO Japão, 2014
QUANDO em cartaz
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO regular
Livraria da Folha
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