Chinês 'Mountains May Depart' vira um dos favoritos à Palma de Ouro
A disputa pela Palma de Ouro em 2015 está se mostrando uma das mais acirradas dos últimos anos. Após a exibição de 13 filmes dos 19 em disputa, pelo menos quatro longas ("Carol", "Saul Fia", "Louder Than Bombs", "The Lobster") se mostram capazes de vencer a 68a edição do Festival de Cannes. E a noite da terça-feira (19) jogou mais um forte candidato: "Mountains May Depart", o mais ambicioso filme do cineasta chinês Jia Zhangke.
Depois do prêmio em Cannes de melhor roteiro há dois anos, pelo ótimo "Um Toque de Pecado", Zhangke retorna com um épico brilhante sobre passado, presente e futuro da China. O longa se passa em três períodos diferentes, iniciando na província chinesa de Shanxi em 1999, passando por 2014 e terminando, supreendentemente, na Austrália de 2025. No ponto central do filme, um triângulo amoroso em uma cidade que sobrevive ao redor de uma mina de carvão: a vibrante Tao (Zhao Tao, mulher do cineasta), o humilde Liangzi (Liang Jin Dong) e o arrogante ricaço Zhang Jinsheng (Zhang Yi).
Tao troca o amor verdadeiro para casar com Zhang. Anos depois, Liangzi retorna doente à cidade para descobrir que sua antiga paixão está separada e com o filho morando ao lado do pai, em Pequim. Esse mesmo menino, nomeado ironicamente de Dollar (Dong Zijian) finaliza a viagem tempo-espaço tentando reencontrar suas raízes na Austrália ao lado de uma professora de chinês -ele só fala inglês e não lembra da mãe.
Zhangke investiga novamente com seu humor ferino (o longa começa com "Go West", do Pet Shop Boys) a abertura da China às grandes corporações e mostra-se preocupado com o esquecimento das tradições, essas substituídas por ganância desenfreada. "Mountains May Depart" termina com um dos personagens questionando a liberdade globalizada sem nenhuma sutileza: "A China proibiu armas de fogo, mas a Austrália não. O problema que não tenho ninguém para atirar aqui".
O épico de Zhangke é adornado pela fotografia estourada e onírica de Nelson Yu Lik-wai, que acompanha o diretor desde o início da carreira, o que torna ainda mais impressionante as passagens temporais do filme, todas com características próprias de cores e iluminação.
Delicado e repleto de leituras críticas, "Mountains May Depart" só sofreu com a projeção em Cannes. Primeiramente, ficou sem legendas em francês, depois uma imagem congelada em vermelho inundou o filme por alguns minutos como se fosse uma propaganda comunista popular (a imagem era a face de várias pessoas aplaudindo) e, ao voltar, o longa ficou sem as legendas em inglês por alguns momentos. Azar de campeão?
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