CRÍTICA
Fantasia 'Trocando os Pés' carece de sabor próprio
Inverter a ordem, trocar posições e registrar os desarranjos que isso pode provocar são recursos que fazem rir daquilo que fica fora do lugar.
"Trocando os Pés" reproduz a fórmula depurada em clássicos, como "Quanto Mais Quente Melhor" (1959), ou em variações, como "Trocando as Bolas" (1983), sem conseguir sabor diferenciado.
Em busca da eficiência na bilheteria, o roteiro junta um pouco de sonho de evasão para garantir um par de horas longe da vida e dos problemas.
Divulgação | ||
Adam Sandler em cena do filme "Trocando os Pés" |
Na comédia doce-amarga, Adam Sandler faz o papel de Adam Sandler, ou seja, um sujeito aparvalhado, colocado numa situação em que tudo pode dar errado.
Sandler interpreta Max, um sapateiro nova-iorquino que um dia descobre que a máquina da loja ganhou poderes extraordinários.
A premissa combina uma situação de conto de fadas com as possibilidades de filme de super-herói.
Basta calçar um par diferente de sapatos para ter acesso a mundos antes inacessíveis. Tirar dos pés os tênis surrados e colocar calçados bacanas provoca, no fim das contas, o mesmo efeito de vestir a roupa do Superman e do Homem-Aranha.
Max pode ficar com a mulher dos seus sonhos, por exemplo, que namora o cara rico da vizinhança e mal dá conta de sua presença.
O indivíduo pacato e entediado pela rotina de um trabalho sem graça também vai viver situações de aventura e e se safar sem arranhões.
Como ele é um sujeito de bom coração, poderá permitir à mãe reviver momentos de muita emoção quando reencarnar o pai num jantar de reencontro.
A tarefa mais arriscada, no entanto, será desmontar o esquema armado por uma exploradora para tomar posse da área de pequenos comércios onde fica a sapataria.
Essa mistura de elementos de denúncia à especulação imobiliária que descaracteriza as regiões tradicionais de Nova York serve para dar um toque de seriedade à comédia, mas só está ali para esticar as possibilidades rocambolescas.
Com seus superpoderes, Sandler pode ser ora um capanga mal-encarado, ora um senhor bondoso exposto à ferocidade financeira, jogar com as aparências para combater a injustiça. No final, basta tirar os sapatos para voltar ao sossego.
Mais ou menos o que a maioria quer quando entra na fila da bilheteria. Melhor ainda se a combinação usar apenas mais do mesmo.
TROCANDO OS PÉS
(The Cobbler)
DIREÇÃO Thomas McCarthy
ELENCO Adam Sandler, Adam B. Shapiro
PRODUÇÃO EUA, 2014, 14 anos
QUANDO estreia nesta quinta (28)
AVALIAÇÃO regular
Livraria da Folha
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