Mesa tem encontro de titãs da música nacional, com Hermínio e Tinhorão
"Não tenho a menor ideia de como vai ser este encontro." Hermínio Bello de Carvalho se refere a um dos momentos mais aguardados desta Flip -seu debate, neste domingo (5), com José Ramos Tinhorão.
É um encontro de titãs. Tinhorão é um dos mais importantes pesquisadores da música popular no Brasil. Hermínio, poeta, compositor e produtor, criou alguns clássicos do cancioneiro nacional.
"Tinhorão é um cara que respeito muito. Muito inteligente, muito honesto nas suas posições. Temos algumas divergências, mas são coisas comuns a todos os seres humanos", diz ele. "Acho que nossa mesa vai ser uma boa surpresa para todo o mundo."
Zanone Fraissat/Folhapress | ||
Hermínio Bello de Carvalho durante a Flip, em Paraty (RJ) |
Hermínio, 80 anos completados em março, lançou dois livros neste ano. Em abril, saiu a coletânea de poemas inéditos "Meu Zeppelin Prateado" (ed. Folha Seca, R$ 28, 88 págs.). Agora chega às livrarias pela Edições de Janeiro "Taberna da Glória e Outras Glórias", reunião de textos de Hermínio sobre grandes nomes da música. O material foi selecionado pelo escritor e colunista da Folha Ruy Castro.
"Minha admiração por Hermínio como escritor só é menor do que a inveja que tenho por tudo que ele viveu entre os artistas de sua admiração e que também são os de minha admiração", escreveu Castro na introdução do livro.
Hermínio fez parcerias com Cartola e Carlos Cachaça ("Alvorada"), Baden Powell ("Valha-me Deus"), Chico Buarque ("Chão de Esmeraldas") e muitos outros.
'ALVORADA'
Em 1963, levou a então empregada doméstica Clementina de Jesus para a carreira artística. Produziu ainda discos de Marlene, Dalva de Oliveira, Elizeth Cardoso, Elza Soares. Fora os projetos que criou para divulgar novos talentos e resgatar veteranos esquecidos.
"Cada parceria dessa é muito rica e muito diferente", diz o poeta. "Uma vez, por exemplo, Cartola chegou lá em casa com Carlos Cachaça e me disse: 'Trouxe aqui um samba, mas falta a segunda parte; você vai fazer'. Ele sentou e, enquanto cantava a primeira parte, escrevi a segunda, na hora. Assim saiu 'Alvorada'."
GURU
Hermínio diz ter ficado especialmente feliz ao ser convidado para a Flip no ano em que Mário de Andrade é o homenageado da feira literária. "Mário é a minha obsessão, um mito que persigo há mais de 40 anos", conta.
A admiração é tamanha que Hermínio chegou a escrever o livro "Cartas Cariocas para Mário de Andrade", no qual cria um diálogo imaginário com o modernista.
"É o meu ídolo, o meu guru."
Sobre a carta de Mário de 1928 recém-divulgada, na qual comenta os boatos acerca de sua sexualidade, Hermínio diz achar que o poeta "se assumiu a vida inteira".
"Todas as vezes em que falava dos conflitos dele, dos demônios que o atemorizavam, ele estava falando disso. Em todo caso, acho que a homossexualidade dele não tem nenhuma relevância para analisar o que escreveu", conclui.
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