crítica
Carlos Navas lança belo álbum de canções de amor pouco conhecidas
Em seu décimo CD, o paulistano Carlos Navas confirma sua elogiável preferência por trabalhos conceituais.
Já fez discos dedicados, por exemplo, a Mario Reis e a Custódio Mesquita. Agora, interpreta canções de amor acompanhado apenas de violões e contrabaixos.
Das 11 faixas de "Crimes de Amor" –fora duas extras que são de projetos anteriores– a de melhor resultado é a primeira, "Sem Destino".
Letícia Moreira/Folhapress | ||
O cantor e compositor Carlos Navas, que lançou seu décimo CD em 2015. |
Os violões do sempre ótimo Swami Jr. e a voz contida de Navas traduzem com perfeição a composição de Luiz Tatit, que tem a melodia em moto-contínuo e uma letra que sofre sem fazer drama.
Talvez falte nas interpretações de Navas um pouco mais da secura mostrada na faixa inicial. Com frequência, ele prolonga sílabas e notas, derramando mel em versos que expressam silêncio e solidão.
As canções escolhidas são inéditas ou pouco conhecidas, feliz aposta do artista. Algumas são de nomes importantes da música de São Paulo e de quem o cantor é próximo.
A intimidade com o repertório se apresenta, por exemplo, em "Transeunte Marginal" (Lucina/Etel Frota) e "Quanto Tempo o Tempo Tem" (Alzira E/Jerry Espíndola/Anelis Assumpção). E contribui para a versão comovente de "Esse Nosso Amor" (Filó Machado/Pedro Marcio Agi), com Filó e seu neto Felipe Machado, de 12 anos, nos violões.
Navas dosa adequadamente a emoção em "Nadando no Seco" –canção de Tunai e Sergio Natureza que por pouco Elis Regina não gravou– e "Palavras de Vento", melodia do português Tiago Torres da Silva e letra de Alzira E, novamente com o violão de Swami Jr brilhando.
Em "Amor Irracional" (Rodrigo Leão), porém, abraça-se a um inimigo infiltrado num CD de canções delicadas de amor: a balada pop. "Avesso" (Marco Vilane) também tem pegada pop, mas com melhores letra e música, amparadas no baixo de Eric Budney.
Fazendo contraponto às dores do restante do disco, "Óbvio" (Fátima Guedes) fala de amor com otimismo, possibilitando um duo leve entre Navas e Jane Duboc.
A única música já bastante conhecida é "Retirantes" (Dorival Caymmi/Jorge Amado), aquela que diz "Vida de negro é difícil...". Embora o cantor afirme que o CD trata de amor em sentido amplo, a escolha destoa. Mas vale pela boa interpretação e pelas violas caipiras de Dino Barioni.
Navas poderia ter ido mais fundo na linha "menos é mais". Ainda assim, realizou outro trabalho belo e coerente com seu caminho musical.
CRIMES DO AMOR
ARTISTA Carlos Navas
LANÇAMENTO independente
QUANTO R$ 25
AVALIAÇÃO muito bom
Livraria da Folha
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