Agora brasileira, banda Drugstore volta ao país após 17 anos
Em 1993, aos 20 anos, Isabel Monteiro partiu para Londres com dois objetivos: recuperar-se da morte do marido, após um ano de casamento, e assistir a um show de The Jesus and Mary Chain.
Acabou prorrogando a estadia por mais de 20 anos –só voltou há dois meses. "O que aconteceu é um conto de fadas rock'n roll", diz ela à Folha, em uma padaria de Moema, zona sul de São Paulo.
Ela pede uma taça de vinho: "Vinho da casa na padaria é viver perigosamente".
Karime Xavier/Folhapress | ||
Isabel Monteiro, que esteve radicada em Londres por mais de 20 anos, volta ao Brasil com a Drugstore. |
Perigo, aliás, é algo que ela conhece bem. Quando chegou a Londres, "nem sabia tocar". Meses depois, assumia o contrabaixo de uma banda "fajuta", onde conheceu o baterista americano Mike Chylinski.
A eles juntou-se o guitarrista Dave Hunter, depois substituído por Daron Robinson, para formar o Drugstore. Gastaram menos de US$ 5 mil para gravar o primeiro compacto, que enviaram a semanários de música –o maior deles, "Melody Maker", os descobriu em menos de uma semana.
Viveram, então, um sonho indie, com shows em festivais como o Reading e Glastonbury, turnês com ídolos (com o próprio Jesus e com Jeff Buckley), 500 mil discos vendidos e até 280 shows em um ano.
Comparada a esse "tour" grandioso de mais de duas décadas, a volta ao Brasil, "por saudade", até parece tímida.
O primeiro show da versão brasileira do Drugstore –Isabel recrutou o baterista Ricardo Cifas Fernandes e o guitarrista português radicado em São Paulo David Ferreira– será para 200 pessoas no dia 15 de agosto, na Casa do Mancha, em São Paulo. "Os [músicos] originais se casaram com modelos e têm bebês", diz Isabel. "Quero continuar vivendo para a música."
Em outubro, a banda ainda deve se apresentar no Centro Cultural São Paulo e planeja um EP para 2016.
O grupo se apresentou no Brasil apenas em 1998, no Sesc Santo Amaro, em SP. Isabel veio ao país em 2014, para sentir o clima da Copa –escreveu uma faixa "de brincadeira", "Offside", que "tirava um sarro" da seleção inglesa.
"[A canção] não representa a banda musicalmente", diz a brasileira. O Drugstore se caracteriza por letras confessionais, embaladas por guitarras distorcidas, arranjos simples e vocal melancólico. "Poucos elementos e muito espaço emocional. Não somos britpop."
O marco da banda, porém, foram menos as canções sobre amores perdidos e solidão do que aquelas com viés político. Como "El President", em homenagem a Salvador Allende, gravada em 1998 com Thom Yorke. "A história do Chile é sobre como o mundo funciona, e queremos que ele seja melhor."
A leitura que Isabel Monteiro faz de seu retorno ao país vai na contramão dos que pensam em deixá-lo. "Tem muita coisa boa aqui. São Paulo mudou, é como se tivessem me jogado em outro planeta. Não teria voltado para o Brasil de 20 anos atrás."
DRUGSTORE
QUANDO 15 de agosto, às 21h
ONDE Casa do Mancha, r. Felipe de Alcaçova, 89, tel. (11) 3796-7981
QUANTO R$ 30 (esgotado)
CLASSIFICAÇÃO 18 anos
*
4X MELANCÓLICOS
Álbuns da Drugstore
Drugstore (1995)
Uma versão cabaré do The Jesus and Mary Chain exprime tristeza, deslocamento e doçura em canções de amor.
White Magic for Lovers (1998)
Alterna um hit ("El President") com rocks explosivos e baladas intimistas, como a belíssima "Song for Pessoa"
Songs for the Jetset (2001)
Compêndio de dor e solidão com ponto nevrálgico na faixa "Wayward Daughter".
Anatomy (2011)
Arranjos delicados dão o tom desolado, na linha do intimismo de bandas americanas como o Low e Sparklehorse.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade