crítica
'Campo de Jogo' cria poesia visual sobre o futebol da várzea
Há aqueles que se satisfazem apenas com gols, mas quem ama futebol gosta mesmo é de perder horas com impedimentos, cartões obscenos e volantes carniceiros, tão pernas de pau quanto apaixonados por aquilo que fazem.
"Campo de Jogo", dirigido por Eryk Rocha, vai às entranhas das canchas de terra. Acompanha um campeonato de várzea das favelas do Rio de Janeiro e retrata jogadores e técnicos que encaram o futebol de maneira visceral, muito além da superfície exibida nos jogos da TV.
Divulgação | ||
Cena de "Campo de Jogo", de Eryk Rocha. |
Documentário sem entrevistas, desenha o roteiro por meio da final do torneio, disputada entre Geração e Juventude. A edição bem construída faz parecer que tudo acontece nesta única partida, embora o filme seja fruto de um trabalho extenso.
Se não há o método tradicional –e por vezes tedioso– dos entrevistados estáticos em frente à câmera, Eryk, filho de Glauber Rocha, explora ao extremo os recursos sensoriais. Suas imagens falam.
Gritos e xingamentos da torcida se misturam aos berros indignados dos treinadores em um desenho de som impressionante, assim como a fotografia exuberante da fita.
Elementos aparentemente laterais, mas fundamentais ao jogo, ganham potência por meio de tomadas demoradas, quase um delírio estético e uma poesia visual.
A marcação das linhas do campo com cal, a agonia geral diante do cartão vermelho e a preleção desesperada, na qual planos táticos estão a quilômetros de distância dos discursos motivacionais, são tão valorizados quanto o resultado final do campeonato.
SEM CLICHÊ
Discorrer sobre futebol no Brasil é cair facilmente em clichês e relatos romantizados da várzea genuína versus o futebol moderno e pasteurizado.
Por outro lado, Eryk também poderia ter feito um documentário que peca ao intelectualizar algo que não precisa de um olhar asséptico e superior, como se mostrasse animais numa jaula exótica.
"Campo de Jogo" está bem no meio. Impõe um olhar sofisticado na mesma medida em que valoriza facetas que emocionarão boleiros de bairro. Com pouco mais de uma hora de duração, o documentário não cansa o espectador, preso ao desenrolar do jogo.
Quem levanta a taça, quem marca os gols, quem é o herói da partida –tudo fica em segundo plano. Eryk Rocha é um adepto do futebol total.
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