Sérgio Oksman bate bola com o pai em filme apresentado em Locarno
O futebol é protagonista recorrente nos documentários do paulista Sérgio Oksman, 45, radicado há 18 anos na Espanha. Para a TV, ele já perfilou a ascensão de um craque ("Ronaldo: Manual de Voo"), destrinchou a mítica em torno de outro ("Pelé") e compilou as lembranças de ídolos em Portugal ("Benfica na Memória").
Mas nunca escalara a si mesmo para uma "partida" cinematográfica. "O Futebol", apresentado no Festival de Locarno (Suíça), muda essa escrita. O documentário nasce de um pacto selado em 2013 entre o cineasta e seu pai, Simão, no momento em que se reencontram após um hiato de 20 anos: a dupla assistiria junta à Copa do Mundo do Brasil, e daí viria um longa-metragem.
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'O Futebol', filme do brasileiro radicado na Espanha Sergio Oksman, que integra competição do festival de Locarno |
"O filme surge do reencontro, mas não é sobre ele. Não queria fazer algo terapêutico. A minha história não é importante", diz Oksman. "Buscava falar sobre o tédio, sobre 'perder tempo' com alguém, aquilo que fazem pais e filhos e que eu nunca tinha tido. E o futebol vem preencher o grande silêncio entre os homens, é uma muleta."
Mas o "esquema tático" teve de ser revisto antes mesmo da entrada em campo. Simão elencava de cabeça o escrete canarinho de 1954 e jurava lembrar o nome do árbitro da final da Copa do 4º Centenário de São Paulo (contribuindo para delinear "um filme de fantasmas", segundo o diretor). Só não queria saber do presente, dos alugueis atrasados e de Neymar e cia: "A Copa não paga minhas contas".
"A ideia era passar um tempo com ele, escrever diálogos a partir disso e voltar para gravá-los. O plano foi para o espaço quando percebi que ele não iria sentar para ver os jogos. Tudo seria menos controlado do que eu tinha imaginado", afirma o diretor.
Ainda assim, Oksman usa toda sorte de expediente para tirar o pai da zona de conforto: alude ao casamento deste (ao lhe mostrar um vídeo do matrimônio), à saída de Simão do lar da família (pergunta-lhe se tem lembranças daquele dia)... habilidoso, o jogador sênior "finta" as arapucas uma a uma.
Pode ser fácil driblar a "retranca" antiamenidades que o filho tenta impor, mas o puro e simples acaso se mostrará adversário mais tinhoso. Em 29/6, dia do jogo Holanda x México (o calendário da Copa ritma as cenas), Simão é internado com insuficiência respiratória. Dois dias depois da ruína brasileira frente à Alemanha (8/7), ele deixa de vez o campo.
"Tentamos dissociar as coisas: o drama do Brasil não explica o do meu pai", afirma o cineasta. "Mas, no futebol como no filme, as regras valem até o fim: se o pacto é rodar durante toda a Copa, ele tem de seguir." Severamente desfalcado, "O Futebol" esbanja "fair-play": só para quando o jogo termina.
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